Uma fórmula padrão para definir o sucesso de um grupo educacional pode se dividir em três grandes eixos: a qualidade acadêmica, que desdobra na força de suas marcas junto ao mercado; o quadro de alunos; e os resultados financeiros. Por esse modelo, a Ânima termina 2020 muito bem na nota. Tem cursos que são referências (o de direito é um exemplo), instituições emblemáticas em seus segmentos (como a plataforma de educação corporativa HSM e a centenária grife da alta gastronomia Le Cordon Bleu) e atravessou o assustador 2020 fazendo receita líquida maior (R$ 1,045 bilhão nos primeiros nove meses do ano, alta de 21,5% sobre o mesmo período de 2019), com Ebitda ajustado de R$ 310,5 milhões (29,7% a mais sobre 2019). Mesmo que se retire da conta as aquisições, o número de estudantes da graduação ficou inalterado, de 101 mil para 100 mil. Ao todo são quase 120 mil.

Mas se fosse para usar somente os parâmetros que todos utilizam a Ânima não seria a Ânima. “Antes da pandemia, o nosso propósito era transformar o Brasil pela educação”, afirmou Daniel Castanho, presidente do Conselho de Administração. “Agora, é fazer com que todo brasileiro tenha esse mesmo propósito: o de transformar o Brasil pela educação.” Ele sabe que não há como olhar o tema de maneira simplista. Muito menos num País desigual, no qual três em cada quatro jovens de 18 a 24 anos não chega ao ensino superior. Talvez por isso Castanho se pareça mais com o capitão de um navio do que com o comandante de um voo. São tarefas igualmente complexas, mas totalmente distintas.

Em sua jornada, o executivo tem claramente as habilidades de que precisa em cada colaborador e elas se resumem em duas frases. “Nunca dê menos que seu máximo. É preciso transbordar”, disse. “Para você ter uma empresa naturalmente inovadora, organicamente inovadora, elas não podem ter medo de errar. É requisito ter ousadia”. É assim que a Ânima trabalha para que seus 5.063 professores e outros 4.419 colaboradores sejam empreendedores. Um exército de quase 10 mil líderes. “Fizemos follow on agora e temos hoje quase 8 mil sócios. As pessoas com mais de um ano de casa ganharam ações. A Ânima é da Ânima.” Tudo é feito com foco no que ele chama de era da personalização total. Para Castanho, a junção da análise de dados com ferramentas cada vez mais sofisticadas de Inteligência Artificial (IA) moldam o novo consumo e os modelos de negócios, em especial nos segmentos altamente pessoais, como educação e saúde.

“Para você ter uma empresa naturalmente inovadora, organicamente inovadora, as pessoas não podem ter medo de errar. É requisito ter ousadia”

Como a era da incerteza é a única certeza, para ele as empresas de todos os setores precisam estar adaptadas a esse ambiente volátil. Isso pede, segundo afirma, que as organizações tenham duas linhas de atuação muito bem desenhadas e culturalmente sólidas. “Uma para antecipar tendências.” Tentar de alguma forma dar previsibilidade aos negócios. Em especial num segmento como o da educação, em que o estudante precisa sair de uma graduação daqui a quatro ou cinco anos totalmente atualizado em relação a seu mercado inicial de atuação. A outra é desenhar a empresa de maneira que você tenha capacidade de resposta muito rápida. “É preciso ser ágil de forma exponencial.”

MINDSET Para consolidar essa dupla performance a Ânima se redesenhou nos anos recentes. Não existe mais, por exemplo, uma área de tecnologia convencional. A empresa é formada por 25 squads (supertimes). Essas equipes se encarregam de antecipar comportamentos e dar agilidade às respostas. “Aqui cargo não entra na reunião.” E não há fracasso, Castanho costuma dizer. Ele acredita que se alguém tenta realizar algo e coloca nisso todos os esforços e ainda assim não der certo, a experiência já foi um sucesso. O novo mindset precisa impregnar cada nome dentro do grupo. O que não se trata de tarefa simples, ainda mais quando o crescimento é intenso também por meio de aquisições – em novembro foi anunciada a compra da rede Laureate no Brasil por R$ 4,4 bilhões. Há duas semanas, fecharam a aquisição da startup de educação MedRoom, de realidade virtual e realidade aumentada.

“A gente é um ecossistema de aprendizagem e está se tornando uma comunidade de aprendizagem”, disse Castanho. E para ilustrar como enxerga essa Ânima — geograficamente ilimitada, com diferentes perfis socioeconômicos de alunos, tudo num mesmo ambiente — ele cita um termo em japonês (“ikigai”) que significa resumidamente a razão de ser. Uma confluência, como explica, do que você faz bem + o que você ama fazer + o que o mundo precisa que seja feito + o que mundo paga para [ser feito]. A educação por meio do ikigai e da inovação constante. Ou, como provoca Castanho: “Quando foi a última vez que você fez alguma coisa pela primeira vez? Se faz muito tempo, algo está muito ruim.” Esses são os mantras que alimentam o ânimo da Ânima.

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