Nunca desperdice uma crise. A célebre frase do ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill frente aos escombros da Segunda Guerra Mundial serve de inspiração para a Ânima Educação em meio ao cenário do coronavírus, segundo seu presidente, Marcelo Battistella Bueno. O executivo afirma enxergar na pandemia uma grande oportunidade para atitudes diferentes, decisões melhores e para o crescimento da instituição. E a motivação vem das lições aprendidas com as mudanças que afetaram diretamente o setor da educação. Ao início da quarentena, em março, a vice-presidente de Gente, Cultura e Gestão da empresa, Carolina Marra, coordenou uma operação sem precedentes em 17 anos de Ânima para permitir o acesso de 140 mil alunos de ensino presencial aos conteúdos transmitidos remotamente pelos professores. Ao mesmo tempo, iniciou as análises sobre o comportamento do mercado e não descarta outras aquisições em 2020 para ampliar o portfólio de universidades e de outras entidades de ensino sob o comando da marca. Atualmente, são 12, distribuídas por sete estados do País, com um total de 8,5 mil colaboradores trabalhando em home-office. Em 2019, a holding apresentou receita líquida de R$ 1,1 bilhão e lucro bruto de R$ 499,5 milhões.

A fome de aprendizado do grupo Ânima fica evidente com as recentes aquisições do Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba) e da mineira Faculdade da Saúde e da Ecologia Humana (Faseh), além da decisão de se tornar cogestora da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). Antes da pandemia, a instituição realizou uma oferta pública de ações (follow-on) de R$ 1,1 bilhão e também um financiamento de R$ 450 milhões junto à International Finance Corporation – braço de participações do Banco Mundial –, que, segundo Battistella, deram fôlego à entidade para enfrentar qualquer crise. “As aquisições podem acontecer a qualquer momento, as instituições podem precisar de ajuda. E nós estamos preparados para isso.”

INADIMPLÊNCIA Apesar de a Ânima ter encerrado o primeiro trimestre deste ano com receita líquida de R$ 338,6 milhões (20,1% superior ao registrado no mesmo período de 2019), o presidente prevê impactos econômicos profundos e o crescimento da inadimplência durante a pandemia. Segundo ele, o grupo acompanha a situação de perto e está preparado para evitar que os matriculados deixem de assistir às aulas. “Contratamos um seguro educacional para garantir que o estudante termine o semestre, caso ele ou o provedor de renda perca o emprego. Além disso, disponibilizamos novas modalidades de financiamento e na negociação de dívidas.”

“As aquisições podem acontecer a qualquer momento, as instituições podem precisar de ajuda. E estamos preparados para isso” Marcelo Battistella, Presidente da Ânima Educação. (Crédito:Divulgação)

A preocupação é necessária. Segundo pesquisa divulgada na última segunda-feira 25 pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), que representa 708 instituições, o índice de atrasos saiu de 14,9% em abril de 2019 para 25,5% em abril deste ano. Já a taxa de evasão subiu de 3,8% em abril do ano passado para 4,3% em igual período deste ano.

DESCONTOS O especialista Renato Casagrande, presidente do Instituto Casagrande e da Alleanza Educação, acredita que muitos alunos do ensino presencial deixaram de pagar as mensalidades para pleitear desconto diante da mudança no formato das aulas, agora remoto. O professor lembra que a educação a distância no Brasil tende a ser 50% mais barata em relação à presencial. “Essa questão está virando uma bola de neve, porque temos de um lado os alunos não pagando para renegociar rematrícula e, do outro, alguns desistindo do curso, principalmente os que ingressaram neste ano nas universidades. A evasão, normalmente, é maior no primeiro ano. E o estudante do ensino presencial caiu de cara no remoto.”

“Ampliamos os investimentos em tecnologia, inclusive para ajudar os alunos a terem acesso a computador” Carolina Marra Vp de Gente, Cultura e Gestão. (Crédito:Divulgação)

Na Ânima Educação, Battistella se apoia no fato de os estudantes não terem ficado um dia sequer sem aulas, desde a implantação do sistema remoto, para descartar a concessão de descontos nas mensalidades. “Não paramos com a prestação do serviço. Ou seja, estamos com os nossos professores e funcionários trabalhando. Não faz o menor sentido (dar abatimento). Os cursos estão aí, e as aulas estão acontecendo”, diz. “Essa questão de desconto é muito mais inerente à realidade das instituições que fecharam ou que não estão conseguindo dar as aulas.” Uma afirmação que não é possível cravar, porque não há dados sobre quantidade de alunos em atraso ou renegociando dívidas em relação a trodo tipo de instituição: as que nada pararam, as que pararam parcialmente e as que quase não derem aulas. A vice-presidente de Gente, Cultura e Gestão do grupo, Carolina Marra, diz que houve mais gastos. “No nosso caso, inclusive, ampliamos os investimentos em tecnologia. Inclusive para ajudar os alunos a terem acesso a computador, à internet.”

COMBINAÇÕES Casagrande afirma que algumas instituições se anteciparam e, ao verem que o aluno terá dificuldades financeiras, por ter ficado desempregado ou por ser autônomo, propuseram refinanciamento e jogaram as prestações em atraso para o fim do curso. Outras, com fluxo de caixa, têm dado desconto escalonado de 20% no primeiro mês, 30% no segundo e 40% no terceiro. “A instituição atrela o desconto na mensalidade à adimplência. Ou seja, concede abatimento desde que o estudante pague as parcelas em dia. Essas combinações têm conseguido reter os alunos.”

A redução no número de matrículas para o segundo semestre decorrente da crise financeira é admitida pelo presidente da Ânima. Apesar disso, ele destaca o andamento do processo de vestibular do meio de ano e revela o desenvolvimento de um aplicativo para a realização do exame e das matrículas. As provas são feitas digitalmente em plataforma e pelo celular. “Está tudo em andamento.”

A transferência dos estudantes do ensino presencial ao remoto teve início em 12 de março. Seis dias depois, as instituições do grupo já operavam 100% on-line. As aulas são dadas na plataforma Ulife, onde podem ser plugadas várias tecnologias, como Zoom e Google For Education. A utilização do sistema foi facilitada, segundo a empresa, pelo fato de há pelo menos três anos o grupo ter abandonado o Ensino a Distância (EAD) e adotado modelo híbrido – uma mescla de aulas presencial e digital. No horário habitual, os alunos têm aula síncrona (em tempo real) com o professor. “E há também uma plataforma com uma série de conteúdos, que são vídeos, laboratórios digitais e textos produzidos pela Ânima.” Na área da gestão, por exemplo, é utilizado material da HSM. Na parte do direito, conteúdo da Escola Brasileira de Direito (Ebradi). “Temos uma soma do síncrono e do assíncrono”, diz a vice-presidente de Gente, Cultura e Gestão. A avaliação dos estudantes é feita diretamente nas plataformas digitais, com reconhecimento facial, por meio de provas e outros métodos.

 

Battistella não acredita sobre a possível demissão de dois terços dos professores de ensino superior em até quatro anos devido ao crescimento do EAD, como diz Casagrande – o especialista lembra que, antes da pandemia, um docente trabalhava no ensino presencial com até 60 alunos em sala e que, agora, ministra aulas para até 600. “Não acredito nisso. As aulas serão diferentes. A metodologia levará em conta o uso da tecnologia. O papel do professor será cada vez mais importante, e a tecnologia será cada vez mais humana. Essa é a nossa leitura”, afirma Battistella.

“As instituições atrelam o desconto à adimplência. Isso tem retido o aluno” Renato Casagrande Presidente do Instituto Casagrande. (Crédito:Divulgação)

A Ânima Educação é signatária do movimento Não Demita!, idealizado pelo presidente do Conselho Administrativo do grupo, Daniel Castanho, ao início da quarentena. Cerca de 4 mil empresas no País aderiram à iniciativa de não dispensar funcionários entre os meses de março e maio. Após esse período, especialistas acreditam que as pequenas e as médias empresas, mais vulneráveis e que representam 54% dos empregos formais no Brasil, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), podem não ter condições de manter as vagas.

Instituições:

Universidade São Judas Tadeu (São Paulo)
Centro Universitário Una (Minas Gerais e Goiás)
Centro Universitário UniBH (Minas Gerais)
Faculdade da Saúde e Ecologia Humana – Faseh (Minas Gerais)
Universidade Sociedade Educacional de Santa Catarina -UniSociesc
Centro Universitário Ages (Bahia e Sergipe)
Centro Universitário UniCuritiba (Paraná)
Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) – cogestão
Escola Brasileira de Direito – Ebradi (Nacional)
HSM e HSM University (Nacional)
SingularityUBrazil (São Paulo)
Inspirali (Nacional)
Le Cordon Bleu (São Paulo)