Em Brasília para contatos políticos após o primeiro turno das eleições, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, cobrou dos candidatos ao Palácio do Planalto Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) o aprofundamento das propostas de governo, principalmente para a indústria.

“Nenhuma das candidaturas mostrou claramente qual é o programa de governo. Tudo que podemos falar é numa certa especulação”, disse Megale, evitando comentar qual dos dois programas é melhor para o setor. “Nos dois lados temos nossas preocupações”, avaliou. Ele se queixou que a campanha de Bolsonaro tem conversado mais com mercado do que com o setor produtivo.

Em conversa com jornalistas, ele disse que vê problemas nos programas dos dois candidatos, mas convergência na preocupação com o emprego. Ele criticou, porém, a proposta do coordenador econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes, de unificar o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) com a Fazenda e manifestou especial preocupação com o risco de uma abertura comercial unilateral com redução da alíquota do Imposto de Importação (II) de veículos, hoje em 35%.

Segundo ele, a abertura comercial deve ser feita, mas por meio de acordos comerciais, como o que está sendo negociado com a Europa. Megale defendeu uma redução a zero do II com prazo de 15 anos e carência de cinco a sete anos antes de a alíquota começar a cair.

Outra preocupação da indústria automobilística é com a votação até final do ano da medida provisória (MP) que cria o Rota 2030, programa de incentivos à pesquisa e inovação. Se a MP não for votada dentro do prazo, a medida caduca. O dirigente informou que conversou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM_RJ), que garantiu que colocará a MP em votação assim que o texto estiver redondo.

Apesar do debate na campanha de corte em renúncias tributárias, Megale considerou que o Rota 2030 não corre nenhum risco num eventual governo de Bolsonaro ou Haddad. Ele destacou também que não há espaço “nenhum” para aumento de impostos no próximo governo e defendeu um sistema simplificado de tributos para o setor, uma espécie de IVA para toda a cadeia da indústria automobilística, reunido IPI, PIS e Cofins.

“O MDIC para nós é o único ministério que ainda tenta fazer uma política industrial, que a gente entende que é absolutamente necessária”, disse num recado direto à equipe de Bolsonaro. Durante a campanha, Megale já encontrou com Haddad e Bolsonaro, mas as conversas foram de conteúdo geral. Ele relatou que há dificuldade, porém, de interlocução com as campanhas. “Vejo um voto forte em mudança, mas essa mudança tem que acontecer logo. Se entra um determinado governo com a nomeação de um ministério absolutamente descomprometido com ninguém, e se não acontecer nada de mudança em seis meses, vamos ter problema”, disse.

O candidato que ganhar, disse ele, terá que “chegar” com propostas muito bem definidas diante da “impaciência” dos eleitores mostrada nas urnas nas eleições de domingo. “Uma coisa é fazer plano estando fora, outra é sentar na cadeira”, disse. Segundo ele, o setor não vai se posicionar em relação a nenhum dos dois candidatos. Para ele, enquanto a equipe de Bolsonaro é mais liberal, a de Haddad é mais desenvolvimentista. “Mas o primeiro problema que vai ter que equacionar é fiscal”, ponderou.

Apesar da elevada renovação do Congresso com eleições de domingo, Megale vê que as lideranças políticas que “ficaram” serão bastante demandadas, num primeiro momento pelos parlamentares mais novatos. Ao ser questionado sobre a notícia de que o empresário Josué Gomes é um dos candidatos a ministro da Fazenda de Haddad, Megale respondeu: “Vejo com bons olhos. Me parece um bom nome”.