O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, disse que a seca deve levar ao acionamento da bandeira vermelha no mês de outubro. Atualmente, vigora a bandeira amarela. Para decidir formas de atender à demanda de forma mais barata e eficiente, integrantes do governo e de órgãos do setor elétrico vão se reunir nesta terça-feira, 19, em reunião extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), em Brasília.

De acordo com Rufino, não está descartada a possibilidade de que seja acionado o segundo patamar da bandeira vermelha, que adiciona R$ 3,50 a cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos. No primeiro patamar, a taxa da bandeira vermelha é de R$ 3,00 a cada 100 kWh. Na bandeira amarela, a cobrança é de R$ 2,00 a cada 100 kWh, e na bandeira verde, não há taxa extra.

“O regime hidrológico é desfavorável, o custo da energia é crescente e o custo de acionamento das térmicas mais caras, dentro ou fora da ordem de mérito, vai elevar o custo da geração de energia”, afirmou Rufino. “É possível que no mês que vem possamos acionar a bandeira vermelha no patamar 2? É possível.”

Na semana passada, o preço da energia no mercado à vista (PLD) atingiu o teto de R$ 533,82, o que, por si só, já indicaria o acionamento da bandeira vermelha. Dependendo da quantidade de termelétricas mais caras a serem acionadas, o custo do sistema pode levar ao acionamento do segundo patamar da bandeira vermelha.

Rufino disse que não há nenhum risco de desabastecimento, mas ressaltou que o custo da energia deve ficar mais caro nos próximos meses em razão do regime de chuvas, que não tem sido favorável há meses.

“O cenário não é favorável. O solo está com umidade muito baixa e a previsão de chuvas não é muito significativa. Isso significa que a afluência de águas para os reservatórios não tem um bom sinal”, afirmou.

Para atender ao consumo sem que haja um forte aumento na conta de luz, o governo deve elevar a importação de energia oriunda da Argentina e do Uruguai. Se houver sobras nos países vizinhos, é possível que menos termelétricas sejam ligadas, reduzindo o custo global da energia no País. Rufino reconheceu, porém, que outras ações terão que ser adotadas.

“A importação tem um limite e por si só não vai resolver a questão. É uma somatória de ações. Vamos colher, em cada uma dessas ações, a ajuda que é bem-vinda no sentido de racionalizar a vertente econômica”, disse Rufino.

O governo também estuda a possibilidade de realizar uma campanha publicitária de incentivo à economia de energia. “Então o sinal é: use a energia de maneira consciente e eficiente, de maneira a contribuir que tenhamos a necessidade de despachar o menor número de térmicas possível”, afirmou.

De acordo com relatórios meteorológicos que chegam ao governo, o solo da Amazônia está seco, o que impede a formação de nuvens que, depois, se convertem em chuvas no Sudeste e Centro-Oeste, onde estão os principais reservatórios das hidrelétricas do País.

Para piorar a situação, o mercado de curto prazo de energia não está funcionando dentro da normalidade em razão de centenas de liminares judiciais sobre risco hidrológico (GSF, na sigla em inglês). Esse cenário não incentiva a entrada de agentes para atender a demanda de forma mais barata, como as usinas de biomassa, pois a guerra judicial impede o recebimento do pagamento integral pela energia gerada.

Estimativas apontam que as usinas de biomassa poderiam contribuir com algo entre 600 e 900 megawatts (MW) adicionais ao Sistema Interligado Nacional (SIN).