Assim como o café gourmet e o vinho fino, o azeite de oliva de qualidade – estampado nos rótulos como extravirgem – assumiu nos últimos anos posição de destaque nas mesas dos brasileiros. Mudança dentro da cozinha que transformou também os negócios fora de casa. Nas gôndolas dos supermercados, os antigos óleos compostos de soja com nome de mulher abriram espaço para opções com rótulos criativos: colheita noturna, primeira colheita, colheita expressa, trufados, orgânicos, de baixa acidez, levemente picante, entre tantos outros. É nesse ambiente de concorrência acirrada e de sofisticação do paladar dos consumidores que a marca Andorinha, produto carro-chefe do grupo português Sovena, também tem aprimorado sua estratégia.

Com oito marcas no mercado brasileiro (Andorinha, Oliveira da Serra, Fontoliva, Olave, Cordoba, Soleada, Ouro d’Oliva e Dante), a companhia quer expandir ainda mais sua linha de produtos até o ano que vem, segundo o CEO, Jorge de Melo. “Vamos multiplicar nossa presença no Brasil com novos azeites de oliva e óleos com imenso potencial de crescimento, como o de abacate”, afirmou o executivo à DINHEIRO. “Os novos produtos e o cronograma de lançamentos estão sendo definidos, mas teremos grandes novidades até dezembro”, disse. No ano passado, graças ao forte aumento do mercado brasileiro, a Sovena faturou 1,3 bilhão de euros, alta de 20% sobre 2020.

75% da receita de 1,3 bilhão de euros do grupo sovena veio do azeite de oliva 

O plano de ataque da dona da Andorinha no Brasil é correr por fora. A companhia adquiriu recentemente 25% da Soho Comercial (azeite premium Olave), produtor líder de azeites de oliva no Chile. A unidade terá como foco as exportações para o mercado brasileiro. A empresa fatura 15,5 milhões de euros e exporta 3,5 mil litros de azeite. A meta é triplicar o volume em três anos, com aumento das vendas para Brasil, América Latina e Estados Unidos. Atualmente a empresa detém operações diretas em dez países – Portugal, Espanha, EUA, Brasil, Chile, Argentina, Marrocos, Itália, China e Angola. – exportando para mais de 70 mercados.

Com menor custo logístico, as andorinhas chilenas da Sovena deverão chegar aos consumidores com preços mais acessíveis, segundo Melo. “Mais recentemente, com a forte oscilação da moeda brasileira, tivemos de absorver grande parte da alta das despesas”, disse o CEO. “Com produção em grande escala em países vizinhos conseguiremos amortecer melhor os impactos cambiais e custos logísticos.”

Investir e produzir mais em países vizinhos, de olho no Brasil, não se limita ao Chile. A Sovena comprou também uma fabricante de azeite de abacate na Colômbia para iniciar já neste ano a oferta de um produto em ascensão nas dietas naturebas. Em Portugal, a empresa também deu início ao cultivo de amendoim no Alentejo, para produção de óleo como matéria-prima da indústria alimentícia e para consumo final.

MERCADO O interesse do Grupo Sovena pelo Brasil é mais do que justificável. O País é o segundo maior importador de azeite de oliva do mundo. Segundo o International Olive Council (OIC), o mercado brasileiro importou mais de 100 milhões de litros do produto no ano passado, praticamente 100% do consumo nacional, apesar de a produção brasileira estar em franco crescimento. Apenas o óleo produzido no Rio Grande do Sul cresceu 773% em volume nos últimos cinco anos (para 448,5 mil litros em 2022), segundo a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul (Seapdr/RS). O estado hoje é responsável por 70% da produção nacional.

Pelos dados do Instituto Brasileiro da Olivicultura (Ibraoliva), a área de cultivo deve alcançar 20 mil hectares no Rio Grande do Sul até 2025. Hoje olivicultura ocupa quase 6 mil hectares de 321 produtores em 108 municípios gaúchos, sendo que 3,4 mil desses hectares são produtivos, com oliveiras de idade superior a quatro anos. Os pomares em todo o Brasil ocupam cerca de 10 mil hectares.