As companhias brasileiras levantaram US$ 5,2 bilhões em janeiro com a emissão de títulos de dívida no mercado externo. O montante representa, em um mês, 25,6% do total captado em ofertas no ano passado. De acordo com o Boletim de Mercado de Capitais, da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o movimento marcou a retomada do modelo usual das captações internacionais, interrompido nos últimos dois anos. Primeira a aproveitar a janela para captações, a Petrobras foi destaque com operação de US$ 4 bilhões.

O movimento parece manter o fôlego em fevereiro. Na segunda-feira, 6, a Vale levantou US$ 1 bilhão com a emissão de bônus com vencimento em 2026, mas a demanda pelos títulos de dívida foi quase cinco vezes maior. A expectativa da Anbima é que as operações no exterior sigam aquecidas no primeiro trimestre e superem os US$ 20,25 bilhões de 2016, quando as captações começaram apenas em março.

Além da Petrobras, realizaram emissões em janeiro a fabricante de celulose Fibria e a Raízen, captando US$ 700 milhões e US$ 500 milhões, respectivamente. Segundo a Anbima, o volume total de emissões em janeiro está próximo à média de captações para o mês que era observada entre 2012 e 2014. Em 2015 o agravamento da crise político-econômica no Brasil havia fechado a janela para estas operações.

“A demanda pelos ativos e a intenção de outras companhias em acessar o mercado internacional ainda neste primeiro trimestre aumentam as expectativas de que o resultado de 2017 supere o de 2016, quando as ofertas foram lideradas pelo Tesouro e somaram US$ 20,25 bilhões no ano”, afirma o diretor da entidade, José Eduardo Laloni.

A captação de US$ 1 bilhão fechada pela Vale na segunda-feira mostra que o espaço para emissões externas tende a ser aproveitado pelas companhias brasileiras. A demanda pelos bônus da mineradora ficou próxima de US$ 5,5 bilhões, cerca de cinco vezes acima do valor captado, como publicou o Broadcast. A operação foi avaliada positivamente pelo mercado e segue a estratégia da Vale de reduzir sua alavancagem. A meta da companhia é reduzir sua dívida líquida em cerca de US$ 10 bilhões, para entre US$ 15 bilhões e US$ 17 bilhões em 2017.

Com os recursos levantados, a Vale pretende pagar uma dívida de € 750 milhões que vence em março de 2018. O que sobrar será usado para “fins gerais da empresa”. O analista Gilberto Cardoso, da WhatsCall, diz que a operação é positiva porque melhora o perfil de dívida da Vale. Cardoso acredita que o timing da emissão foi correto, já que o cenário de juros baixos no mercado internacional pode estar, segundo ele, com os dias contados. A análise leva em conta a expectativa ainda não completamente afastada de que o presidente americano, Donald Trump, eleve gastos para impulsionar a economia, impactando a inflação e se tornando um gatilho para a alta de juros pelo Fed, o Banco Central americano.

“A empresa aproveitou uma janela que pode estar se fechando para emissões de longo prazo, com o atual cenário global de juros baixos e a melhora nos preços de minério. É uma maneira de alongar sua dívida e ficar com caixa confortável durante os próximos anos de ramp-up (desenvolvimento) do projeto de minério S11D (o maior da história da companhia, em Carajás)”, disse Cardoso.