Por Eduardo Simões

SÃO PAULO (Reuters) – Os apoios obtidos por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e por Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno da eleição presidencial têm dimensões distintas, com o petista obtendo endossos nacionais simbólicos importantes, enquanto Bolsonaro apostou em lideranças regionais e tem no apoio do governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), seu maior reforço para esta nova etapa da campanha.

Estado onde todos os presidentes eleitos desde a redemocratização venceram, Minas deve ser um campo de batalha eleitoral ainda mais acirrado se Zema atuar para valer em seu apoio a Bolsonaro.

Lula, por sua vez, conquistou os apoios de Simone Tebet (MDB), terceira colocada no primeiro turno, e do PDT, partido do quarto lugar, Ciro Gomes, que não mencionou o nome do petista ao anunciar que acompanhava a decisão partidária.

Recebeu também declarações de voto de cinco ex-presidentes do PSDB (José Serra, José Aníbal, Pimenta da Veiga, Tasso Jereissati e Teotônio Vilela Filho), além de ter como vice na chapa Geraldo Alckmin, hoje no PSB, mas que também já presidiu a legenda. Também apoiaram o petista o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e os economistas que participaram da formulação do Plano Real Edmar Bacha, Pérsio Arida e Pedro Malan.

“Esses apoios, de FHC, de Armínio Fraga, são apoios que têm o objetivo de frear a rejeição ao ex-presidente Lula nacionalmente”, disse à Reuters o cientista político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Adriano Oliveira.

“Os apoios a Lula são de dimensão nacional, os apoios a Bolsonaro são de dimensão regional. Porém, o de Zema é fundamental se o voto Zema-Lula, uma parte dele, se transformar em Zema-Bolsonaro”, acrescentou.

O candidato à reeleição tem amealhado apoios principalmente de governadores que já eram alinhados a ele ou de Estados em que já superou Lula no primeiro turno de domingo. Cláudio Castro, reeleito no Rio de Janeiro, é do mesmo partido do presidente. Ratinho Jr. (PSD), Ronaldo Caiado (União Brasil) e Ibaneis Rocha (MDB), por exemplo, foram reeleitos em Paraná, Goiás e Distrito Federal, respectivamente, onde Bolsonaro venceu no domingo.

“Teoricamente, o único apoio relevante para o presidente Bolsonaro é o apoio de Zema, se Zema conseguir estreitar ou dar ao presidente uma votação a tal ponto que ultrapasse Lula (em Minas)”, disse Oliveira.

Na mesma linha, o CEO da Dharma Political Risk, Creomar de Souza, avalia que os apoios obtidos por Bolsonaro não trazem grande novidade, e aponta ser uma incógnita se Zema será capaz de transferir votos para o presidente.

“Zema bateu no PT durante todo o primeiro turno e só não subiu no palanque (de Bolsonaro) antes devido à existência da candidatura (presidencial) do Felipe D’Ávila (pelo Novo). A questão que fica é saber se o apoio dele auxiliará o Bolsonaro, tendo em vista que no primeiro turno o ´Lulema´ funcionou bem até para o ex-presidente”, disse, referindo-se ao voto casado em Zema para governador e em Lula para presidente.

Este movimento do eleitor mineiro, de votar em candidatos antagônicos para governador e presidente, aliás, não é novidade. Ocorreu em 2006, com o “Lulécio” –Lula para presidente e Aécio Neves (PSDB) para governador– e em 2010, com o “Dilmasia” –Dilma Rousseff (PT) para presidente e Antonio Anastasia (então no PSDB) para governador.

Lula foi o presidenciável mais votado em Minas no último domingo, com 48,29% dos votos válidos, contra 43,60% de Bolsonaro, uma dianteira de 563 mil votos. Zema, por sua vez, foi reeleito com 56,18% contra 35,08% do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), que era apoiado por Lula. O agora governador reeleito teve quase 2,3 milhões de votos a mais que o principal rival.

“Creio que é importante ter em mente a força de Zema no interior”, disse Creomar.

Para o CEO da Dharma, além de Zema, que tem maior capacidade de dialogar para fora da base mais leal a Bolsonaro, o presidente também deve contar com o trabalho de cabo eleitoral do senador eleito Cleitinho Azevedo (PSC) –bastante atuante nas redes sociais– e do deputado federal mais votado no Estado, Nikolas Ferreira (PL), que teve quase 1,5 milhão de votos, sendo o parlamentar mais votado do país.

O presidente, inclusive, fez em Minas nesta quinta-feira sua primeira viagem de campanha no segundo turno para um encontro com empresários na Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiaemg).

Lula, por sua vez, deverá contar com o deputado reeleito André Janones (Avante), segundo mais votado em Minas com quase 240 mil votos e bastante atuante nas redes sociais, e com sua própria capacidade de atração de votos, especialmente em regiões como a do Vale do Jequitinhonha para manter, e até ampliar, a vantagem em Minas.

O petista terá seu primeiro evento externo de campanha neste segundo turno no Estado no final de semana, quando participará de uma caminhada em Belo Horizonte no domingo.

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