Por Walter Bianchi

BUENOS AIRES (Reuters) – Os alarmes econômicos da Argentina estão soando alto com os temores de uma recessão global e inflação em espiral, alimentando preocupações dos investidores sobre possíveis inadimplências, metas perdidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e agitação política.

O país, importante fornecedor global de soja, milho e trigo, viu seus títulos afundarem para mínimas recordes, a pressão sobre sua moeda está aumentando e uma conta alta de importação de energia está impedindo o acúmulo de reservas vitais em dólares.

Enquanto isso, a inflação caminha para 70% até o final do ano, forçando o banco central a apertar fortemente a política monetária, arriscando o crescimento. A taxa de juros subiu para 52% em uma tentativa de evitar que os investidores abandonem ativos em peso.

Com as exportações de grãos caindo no segundo semestre do ano, isso pode colocar em risco a capacidade do país de cumprir as metas vinculadas a um acordo de 44 bilhões de dólares acertado com o FMI.

“O governo está encontrando cada vez mais dificuldade para renovar todos os vencimentos e há um medo crescente de que ele recorra a uma redefinição de sua dívida”, disse Víctor Beker, diretor do Centro de Estudos de Nova Economia da Universidade de Belgrano.

A economia da Argentina, terceira maior da América Latina, tem sido atingida por crises, inadimplência e inflação galopante há décadas.

A recente volatilidade foi exacerbada pela tensão mais ampla dos mercados emergentes, à medida que o Federal Reserve apertou a política monetária nos Estados Unidos e os preços globais subiram, incluindo altos custos de energia que afetaram gravemente o equilíbrio de pagamentos da Argentina, limitando sua capacidade de acumular reservas estrangeiras muito necessárias.

TÍTULOS EM BAIXA

Os títulos soberanos da Argentina, reestruturados em um enorme acordo de 110 bilhões de dólares em 2020, voltaram a cair em território aflito, com muitos agora valendo apenas 20-30 centavos de dólar, um reflexo do risco de inadimplência percebido.

“Sem acesso ao mercado de capitais, a Argentina terá que se reestruturar repetidas vezes”, disse Gabriel Torres, da agência de classificação Moody’s. Na semana passada, o governo realizou um grande swap de dívida local para adiar os pagamentos de junho.

“E a única maneira de ter acesso ao mercado de capitais é se o mercado acreditar que a Argentina está realmente disposta a pagar sua dívida.”

PESO

Controles rígidos de capital criaram mercados de moeda alternativos populares, em que os dólares são negociados a preços muito distantes da taxa oficial. A diferença começou recentemente a aumentar de novo em meio a preocupações com a economia e financiamento apertado.

Essa diferença em relação à taxa oficial aumentou para cerca de 100%, uma disparidade desestabilizadora enraizada em controles que limitam o quanto cada pessoa pode comprar todos os meses a cerca de 200 dólares.

“Uma diferença cambial tão grande quanto a atual não afeta apenas o comportamento dos formadores de preços, mas também os incentivos de exportadores e importadores, o que reforça as expectativas de um ajuste macroeconômico forçado no futuro”, disse o J.P. Morgan em nota.

INFLAÇÃO A 70%

O país, que luta há tempos com o aumento dos preços, tem agora a segunda inflação mais alta entre as principais economias, atrás da Turquia. A taxa ficou em 60,7% em maio e uma pesquisa do banco central prevê que ela atingirá 72,6% até o final do ano.

Isso está bem longo das metas acertadas com o FMI de 38%-48% e pesa sobre os salários, poupanças e investimentos. Autoridades do governo já elevaram a meta oficial de inflação para 52%-62%, embora a maioria dos analistas a veja acima dessa faixa.

“Para 2022, projetamos inflação de 75%, e há riscos de alta”, disse Isaias Marini, da consultoria Econviews.

(Reportagem de Walter Bianchi; reportagem adicional de Hernan Nessi e Jorge Otaola)

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