A disparada das ações da Petrobras, na esteira da valorização de dois dígitos dos preços do petróleo, impediu que o Ibovespa fosse tragado pelo ambiente de redução da exposição ao risco que tomou conta dos mercados acionários nesta segunda-feira. Na contramão das bolsas americanas e dos índices europeus, o principal índice da B3 fechou em alta de 0,17%, aos 103.680,41 pontos. O volume negociado foi expressivo, de R$ 27,856 bilhões, inflado pelo giro de R$ 7,576 bilhões do exercício de opções sobre ações.

As repercussões ao ataque a instalações petrolíferas na Arábia Saudita durante o fim de semana provocaram efeitos díspares sobre o mercado acionário doméstico. Lá fora, o petróleo chegou a subir quase 20%, com o corte da oferta após os ataques a refinarias da Saudi Aramco, a maior petrolífera do planeta. Reivindicado por um grupo do Iêmen, o episódio gerou um estresse diplomático entre Estados Unidos e Irã, o que deixou os investidores na defensiva.

A redução de exposição ao risco levou a uma onda vendedora de papéis de bancos, com perdas superiores a 1% de Bradesco e Itaú, e da Vale (-2,41%), também abalada por dados fracos da atividade na China. Fora do grupo das blue chips, as aéreas, cujos custos são diretamente ligados à cotação do petróleo, lideraram as perdas. A PN da Azul caiu 8,45% e a da Gol, 7,77%. No outro lado da gangorra, as ações da Petrobras operaram em alta firme e chegaram, na máxima, a subir mais de 5%.

Em meio aos ganhos da petroleira e as perdas dos bancos, o Ibovespa mostrou instabilidade e alternou ligeiras altas e baixas ao longo da tarde. Na última hora de negócios, com a ação do Itaú perdendo mais de 2% e os papéis da Petrobras reduzindo os ganhos para baixo de 4%, o índice perdeu fôlego e se firmou em terreno negativo. Mas uma reviravolta dos minutos finais, com nova aceleração da alta da petroleira, o índice fechou no azul.

Para o estrategista Jefferson Laatus, mesmo descontado o efeito positivo das ações da Petrobras, o mercado acionário doméstico se comportou bem quando comparado às bolsas no exterior. À espera de mais informações sobre a magnitude do ataque e dos desdobramento geopolíticos, investidores apenas reduziram a exposição ao risco. “Houve uma busca por proteção, mais foi moderada. Existe uma cautela para não realizar movimentações mais bruscas, até porque tem a decisão de política monetária nos Estados Unidos nesta semana”, diz Laatus.

De fato, a disparada dos preços do petróleo aguçou as expectativas em torno da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na quarta-feira, 18. Se de um lado a alta do petróleo pode afetar as expectativas de inflação, de outro aumenta os riscos de desaceleração da economia global, um dos motivos citados por dirigentes do Fed para justificar o mais recente corte de juros.

Por aqui, a alta do petróleo não abalou a confiança do mercado em mais afrouxamento monetário, com os juros futuros espelhando 100% de chances de redução da Selic em 0,50 ponto porcentual no encontro do Copom na quarta-feira, para 5,50% ao ano – o que, em tese, tende a estimular o mercado acionário.

Segundo analistas, é preciso monitorar se o impacto positivo inicial da alta do petróleo para as ações da Petrobras vai se sustentar. Há dúvidas se a empresa terá autonomia para seguir com sua política de preços e reajustar derivados, por conta da valorização do óleo no mercado internacional. “Vai entrar no radar essa questão da formação de preços, até porque a gente é produtor de petróleo, mas importador de gasolina. Tudo está na mão da gestão da Petrobras. A expectativa é que não haja ingerência política”, afirma Bruno Madruga, responsável pela área de renda variável da Monte Bravo, que trabalha com Ibovespa acima dos 110 mil pontos no fim do ano.