A falta da internet, uma ferramenta fundamental em tempos de pandemia, limitou o acesso ao trabalho ou à educação a distância em 40 milhões de domicílios na América Latina, apesar dos esforços dos países em melhorar suas capacidades digitais, informou nesta quarta-feira (26) a Cepal.

As tecnologias digitais têm sido cruciais para o funcionamento da economia e da sociedade durante a pandemia, que na América Latina, fortemente atingida pelo novo coronavírus, evidenciou as desigualdades no acesso à internet, segundo o relatório “Universalizar o acesso às tecnologias digitais para enfrentar os efeitos da COVID-19”, apresentado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe em sua sede em Santiago.

“São mais de 40 milhões de lares desconectados. Metade deles estão nos dois quintos mais pobres; isso é um problema em praticamente todos os países”, afirmou Alicia Bárcena, secretária-geral da CEPAL, durante a apresentação do relatório em uma videoconferência.

Segundo o documento, 60% dos domicílios e 67% dos 650 milhões de habitantes da América Latina usam a internet. Em países como Brasil e Chile, mais de 60% dos lares do quinto mais pobre da população têm conexão com a internet, enquanto na Bolívia, Paraguai e Peru, apenas 3% têm.

O estudo indica que esse baixo percentual amplia as lacunas de acesso à internet, que condicionam o direito à saúde, educação e trabalho, ao mesmo tempo em que aumenta as desigualdades socioeconômicas.

“Os países da América Latina e do Caribe têm adotado medidas para promover o uso de soluções tecnológicas e garantir a continuidade dos serviços de telecomunicações. No entanto, o alcance dessas ações é limitado por lacunas no acesso e utilização dessas tecnologias e velocidades de conexão”, ressalta Bárcena.

Para garantir a conectividade e acessibilidade das tecnologias digitais, a Cepal propôs que os países garantissem uma cesta básica de tecnologias da informação composta por um laptop, um smartphone, um tablet e um plano de conexão para residências não conectadas, a um custo anual inferior a 1% do PIB.

A comissão também sugeriu o desenvolvimento de uma sociedade digital inclusiva, o impulsionamento da transformação produtiva, a promoção da confiança e segurança digital, o fortalecimento da cooperação digital regional e o avanço em direção a um “Estado de bem-estar digital”, que promova a igualdade nesse âmbito.

– Trabalho e educação –

Com a região paralisada pela quarentena, o teletrabalho aumentou 324% entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano. No entanto, 79% dos trabalhadores trabalham em atividades que não podem ser realizadas pela internet, e somente 21,3% conseguem acessar o trabalho online.

Em termos de educação, cerca de 32 milhões de meninas e meninos não têm acesso à internet, enquanto 46% dos alunos da região vivem em lares sem conexão.

Isso também evidenciou as grandes diferenças entre as crianças que frequentam as aulas em áreas urbanas e as que frequentam as aulas nas áreas rurais.

“Para garantir uma educação inclusiva e igualitária e promover oportunidades de aprendizagem ao longo do ciclo educacional, deve-se aumentar não somente a conectividade e a infraestrutura digital, mas também as competências digitais dos professores e docentes, assim como a adequação dos conteúdos educacionais para o campo digital”, acrescentou Bárcena.

Com a América Latina em crise econômica e com queda anual do PIB estimada em 9,1%, o relatório afirma que a internet mitigou o impacto nas empresas, que aumentaram o número de páginas virtuais em 800% na Colômbia e no México, e cerca de 360% no Brasil e no Chile.

Em junho de 2020, a presença online de empresas de varejo aumentou 431% frente a junho de 2019.

Após a pandemia, o estudo projeta que uma nova demanda crescerá a partir de canais online que envolverão um esforço de países e do setor privado para prestar um melhor serviço.