Os times latino-americanos perderam para os europeus a disputa pela Copa do Mundo 2010. No campo econômico, no entanto, os primeiros estão rindo por último. A bola está rolando mais solta e a grama está mais verde no Novo Mundo do que no Velho.

Você se lembra das crises das dívidas externas que assolaram México, Brasil, Argentina e outros vizinhos nos anos 80 do século passado, provocando a chamada década perdida? Lembra-se do descontrole inflacionário, dos calotes nas dívidas e da estagnação econômica? Pois então, esqueça.
 

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Mãos à obra: operários trabalham em estaleiro em Niterói, no Rio de Janeiro. Brasil deve crescer
7,1% em 2010, segundo o FMI, e reforça a posição econômica e geopolítica da região

 

Quem olha para a frente, como os economistas reunidos no 9º Encontro Santander – América Latina na semana passada, na cidade de Santander, enxerga uma região recuperada e pronta para disputar com os países asiáticos os investimentos e os negócios da próxima década. Há exceções, claro, como as conturbadas Venezuela e Bolívia, mas o clima geral é de otimismo e surpreende até mesmo velhas raposas dos fóruns internacionais.

Cinco anos atrás, o uruguaio Enrique Iglesias, ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, não imaginava que o peso relativo da região fosse aumentar tanto no jogo de poder e na economia global. “Sinceramente, eu não pensava que isto fosse possível em tão pouco tempo”, confessou à DINHEIRO na segunda-feira 5.

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Enquanto a Europa patina e não consegue sair da crise iniciada em 2008, a América Latina e o Caribe crescerão 4,8% este ano, em média, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Países como o Brasil, que no passado brigaram contra as medidas de austeridade econômica do FMI, hoje são exemplos de responsabilidade fiscal, de controle da inflação e de solidez do sistema bancário.

O PIB do País deve aumentar 7,1% neste ano e 4,2% no próximo, nas novas previsões do FMI. O México deve emplacar 4,5% e 4,4%, respectivamente. “Hoje, a América Latina é parte da solução, não do problema”, diz o ex-comandante do BID. Aprendemos a navegar em águas difíceis”, reforça Vittorio Corbo, ex-presidente do Banco Central do Chile.

Os países emergentes, inclusive China e Índia, devem responder por metade do crescimento mundial em 2010. Onde há dinheiro, há poder, como prova a substituição do G-7 pelo G-20 como principal fórum de discussões globais, e o protagonismo do presidente Lula no Exterior. “Estamos diante de uma das maiores mudanças estruturais na história da humanidade”, afirma Iglesias.

Só eloquência não basta para convencer os investidores a apostarem sua “plata dulce” no Novo Mundo. O Santander mergulhou nos números e apresentou no seminário importantes vantagens comparativas da América Latina em relação à Ásia e, particularmente, à China (veja quadro).

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Na média, a população latino-americana de quase 600 milhões de pessoas é mais jovem, mais escolarizada, tem mais acesso aos meios de comunicação e renda per capita maior que a asiática. Apesar do problema do narcotráfico, não há conflitos bélicos externos ou intrarregionais. Os recursos naturais são abundantes.

A pobreza está sendo reduzida e a classe média está emergindo, especialmente no Brasil. Há muito espaço para avançar, especialmente em educação, infra-estrutura, capacidade de inovação, competitividade, etc. A lista é longa. Mas o jogo está dado. “Num mundo mais global e integrado, em que os emergentes serão protagonistas do crescimento mundial, a América Latina tem um enorme potencial de crescimento que irá se realizar ao longo da década e a levará ao desenvolvimento”, diz Francisco Luzón, diretor-geral da Divisão América do Santander.

Por tudo isso, o banco focou os negócios em sete países da região: Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia, Peru e Uruguai. Deles, irá tirar 40% do lucro do grupo em 2010 sendo a metade em terras brasileiras. Do ponto de vista estratégico, é ouro puro, mais reluzente que a taça da Fifa.