Na última década, o fluxo de imigração mundial apresentou uma nova tendência: pessoas estão saindo de países em desenvolvimento para outros países em desenvolvimento. Segundo a ONU, esse tipo de deslocamento já representa um terço do total, o equivalente a mais de 90 milhões de pessoas. A tendência é evidente na América Latina. Entre 2009 e 2014, dos 36 milhões de emigrantes da região, 64%, tiveram como destino outros países latino-americanos. É uma quebra com um padrão que se mantinha desde os anos 1970, quando mais de 80% das pessoas que saíram do continente tinham como destino países europeus ou os Estados Unidos. Agora, com o governo americano de Donald Trump endurecendo as regras para a entrada de estrangeiros, a movimentação está se intensificando. Mas o Brasil, maior economia da região, não é o destino preferido.

Na verdade, quem mais encanta os viajantes é o Chile. Com uma economia em melhores condições – seu PIB cresceu 1,6% em 2016, a sétima alta seguida – o país andino virou um porto seguro, especialmente para migrantes oriundos da falida Venezuela e do Haiti. No ano passado, 105 mil haitianos entraram no Chile, mais do que o dobro do ano anterior, segundo dados publicados pelo jornal The Wall Street Journal (WSJ). O Brasil recebeu, entre 2010 e 2015, 80 mil haitianos, de acordo com o Ministério da Justiça. Ainda que o assunto renda polêmicas no país do presidente eleito Sebastián Piñera, a presença de imigrantes é celebrada. “As pessoas mais pobres, ao buscarem melhorar de vida, contribuem para o desenvolvimento dos países que as recebem”, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Heraldo Muñoz, ao WSJ. “Os haitianos são um exemplo no Chile.”

(Nota publicada na Edição 1054 da Revista Dinheiro)