O Fundo Monetário (FMI) melhorou as perspectivas para a América Latina e o Caribe para este ano antecipando um crescimento de 3,5%, mas prevê ventos contrários no ano que vem, sob o embate de uma inflação e taxas de juros elevadas.

Enquanto ainda enfrentam os efeitos da pandemia e da invasão russa na Ucrânia, avizinha-se dos países latino-americanos um endurecimento das condições financeiras globais, que já começou.

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O impulso de crescimento é positivo, graças a um bom desempenho dos setores de serviços e do emprego, assim como altos preços de produtos básicos, forte demanda externa, remessas e a recuperação do turismo, explicam nesta quinta-feira (13) em um blog Santiago Acosta Ormaechea, Gustavo Adler, Ilan Goldfajn e Anna Ivanova, do Departamento do FMI para as Américas.

O Fundo prevê que a região da América Latina e do Caribe cresça este ano 3,5% (em comparação com os 3% previstos em julho), mas é pessimista sobre 2023.

“Com os ventos inconstantes que se avizinham, o crescimento do próximo ano está prestes a desacelerar mais rapidamente do que projetamos em julho”, a 1,7% (-0,3 ponto percentual), destaca.

O Brasil vai crescer 2,8% em 2022; o México, 2,1%; o Chile, 2%; a Colômbia, 7,6%; e o Peru, 2,7%. Para a América Central, Panamá e República Dominicana, a previsão é de 4,7%, e para os países caribenhos dependentes do turismo, de 5,2%.

É provável que os exportadores de matérias-primas, como os países da América do Sul, México e algumas economias do Caribe, “vejam reduzidas à metade suas taxas de crescimento no próximo ano” porque a queda dos preços destes bens “amplifica o impacto do aumento das taxas de juros”, adverte o FMI.

As economias da América Central, Panamá e República Dominicana também vão perder fôlego “à medida que se debilitarem o comércio com os Estados Unidos e as remessas”, apesar de que se beneficiarão dos preços mais baixos das matérias-primas das quais são compradores.

Os países do Caribe “vão continuar se recuperando, embora mais lentamente do que o previsto em julho” porque as perspectivas do turismo, do qual dependem, diminuem.

– Inflação persistente –

“Saindo da pandemia, os países têm conseguido se recuperar bem” e “para a região foi um ano de crescimento maior do que esperávamos”, declarou à AFP Ilan Goldfajn, economista-chefe do FMI para a América Latina.

“A recuperação continua. Eu diria que é uma boa notícia. O problema é saber se este bom momento se manterá no futuro e (…) pensamos que não continuará”, devido ao aumento das taxas de juros para combater a inflação e à redução do crescimento nos Estados Unidos e na China, acrescentou.

O principal problema, segundo Goldfajn, é a inflação persistente.

Os preços continuarão nas alturas na região, com uma inflação média de 14,6% em 2022 e de 9,5% no próximo ano, prevê a instituição.

A resposta rápida dos bancos centrais regionais, que elevaram as taxas de juros antes das economias avançadas e outros mercados emergentes, “ajudará a reduzir a inflação, mas isto levará tempo”, destaca o blog.

No Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, os preços afetaram itens da cesta básica para além de alimentos e energia, e a inflação alcançou valores máximos em duas décadas, a 10%, levando o FMI a aumentar as previsões neste departamento.

Os aumentos dos preços para estes cinco países vão se aproximar dos 7,8% até o fim do ano e se manter em torno de 4,9% ao final de 2023.

– Manter o rumo –

A incerteza sobre as taxas de juros globais e a capacidade de controlar a inflação de forma progressiva sem afetar o crescimento (a chamada “aterrissagem suave”), acarreta possíveis picos de volatilidade e aversão ao risco de parte dos investidores.

Em outras palavras, a transição para taxas de juros globais mais altas “pode ser acidentada”, constata a instituição.

A desaceleração também pode reduzir as exportações, as remessas e o turismo na região.

“A política monetária deveria manter o rumo e não ser relaxada precocemente”, porque ter que restaurar a estabilidade dos preços mais adiante se a inflação se consolidar seria muito custoso, alerta o FMI.