A pecuária brasileira tem vivido dias turbulentos. Não apenas pela alta histórica da carne e pelo jocoso apelido de “gado” dado aos seguidores mais radicais do presidente Jair Bolsonaro, mas pela identificação da doença encefalopatia espongiforme bovina (EEB) — popularmente conhecida como doença da vaca louca — em dois frigoríficos no Mato Grosso e em Minas Gerais, no dia 4. Assim que o Ministério da Agricultura foi notificado, o País suspendeu os embarques de carne bovina para a China, destino de 56% de toda proteína exportada pelo Brasil neste ano. Para o economista César de Castro, especialista em agronegócio do Itaú BBA, os grandes frigoríficos, com operações em vários países, podem não sentir a paralisação, “mas empresas que operam apenas no Brasil e têm a China como principal destino externo podem sofrer impactos negativos nas suas receitas a depender da duração da suspensão.”

Segundo o Ministério da Agricultura, a medida passou a valer desde sábado (4) e o fechamento se manterá até que as autoridades chinesas concluam a avaliação das informações já repassadas sobre os casos. Seja qual for o tempo para a retomada das exportações, o estrago está feito. Diariamente, neste ano, os frigoríficos brasileiros exportam US$ 40,5 milhões, segundo o Ministério da Indústria, Comércio e Serviços. De janeiro a agosto, antes da vaca louca, as vendas para o exterior estavam, em volume, 35% acima do mesmo patamar do mesmo período de 2020. Já os preços, em dólar, estão 31,23% superiores no mesmo intervalo de comparação.

Ian Cheibub

“Quando esses casos são achados, é porque estamos procurando. Não tem o que temer” Tereza Cristina ministra da agricultura.

Mesmo assim, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, minimizou a ocorrência e garantiu que todos os protocolos internacionais de fiscalização continuam em total normalidade Brasil.

“É um caso atípico, sem problema para a saúde pública”, disse, em entrevista coletiva. “Quando esses casos são achados, é porque estamos verificando. Se não estivéssemos, não acharíamos. O caso está encerrado e não tem o que temer”, afirmou.

As preocupações, no entanto, não se limitam aos efeitos em curto prazo. A doença da vaca louca ressuscita traumas dos anos 1980 e 1990 para os empresários do setor. Naquela época, um surto no Reino Unido levou ao abatimento de 4 milhões de cabeças de gado e a dezenas de mortes de pessoas que haviam ingerido carne contaminada, com boicotes e prejuízos bilionários aos pecuaristas britânicos. Desta vez, a variante da doença identificada no Brasil é menos perigosa, mas o sinal de alerta foi disparado. Afinal, em um País em que a insanidade e os gados ditam os rumos da economia e da política, ao menos o setor agropecuário precisa estar sóbrio e saudável.

OUTRO LADO A China é hoje a principal compradora de carne do Brasil e o único cliente para muitos pequenos empresários. (Crédito:Juliana Santin)