À contínua destruição do bioma provocada pelo incessante avanço de motosserras, soma-se agora a explosão de casos confirmados de Covid-19 na região. O cenário da pandemia é tão alarmante que o governo do Amazonas decidiu prorrogar a suspensão dos serviços não essenciais até dia 31 de maio. A previsão era a volta à normalidade na quinta-feira 14. Dias antes, o Instituto Brasileiro de Pesquisas Espaciais (Inpe) havia anunciado um novo recorde na área desmatada da Amazônia Legal. Segundo o Inpe, o desmatamento avançou 55% no primiro trimestre, em comparação com o mesmo período de 2019. O aumento coincide com o desmanche de órgãos ambientais (em especial o Ibama), e o incentivo a narrativas que estimulam a ocupação e destruição da floresta. “A madeireira ilegal abre estradas, a grilagem de terras faz proveito das estradas e o garimpeiro usa o ouro para financiar a grilagem”, afirma Virgílio Viana, superintendente geral da Fundação Amazonas Sustentável (FAS). “Esses três agentes econômicos receberam sinal do governo federal.” Além do recorde de áreas desmatadas na Amazônia, a região Norte também sofre com a explosão de casos de Covid-19, principalmente no estado do Amazonas. Segundo a mais recente atualização do painel Coronavírus Brasil, plataforma em que o Ministério da Saúde que divulga dados consolidados sobre a doença, somente no Amazonas havia 14.168 casos confirmados e 1.098 óbitos até a terça-feira 12. O estado possui as maiores taxas de incidência de novos casos e de mortalidade para cada 100 mil habitantes (341,8 e 26,5, respectivamente. Para Viana, o aumento de casos e óbitos se deve à fragilidade do sistema de saúde no Amazonas. “As políticas são desenhadas na esfera federal
sem considerar especificidades da região. O atendimento para as regiões indígenas é ainda pior.” Na segunda-feira 11, o governo federal lançou a Operação Verde Brasil 2, sob comando do vice-presidente Hamilton Mourão. Segundo ele, o programa prevê combater “ilegalidades que vem sendo cometidas em terras da União, áreas de preservação e terras indígenas.”

Paulo Masson

(Nota publicada na edição 1171 da Revista Dinheiro)