Cultivos ilícitos, agricultura intensiva, mineração ilegal e narcotráfico produzem uma “preocupante degradação ambiental” na Amazônia colombiana, cada vez mais afetada pelo desmatamento e por ataques contra ambientalistas, denunciaram várias ONGs nesta quinta-feira (30).

A região “enfrenta uma crise ambiental e de segurança sem precedentes, que tem um grave risco para os defensores do meio ambiente”, alertaram nove organizações colombianas e internacionais na apresentação de um relatório sobre o tema.

A apropriação de terras para a agricultura e a pecuária e as economias ilegais como o garimpo e os narcocultivos não só afetam o meio ambiente, como também aumentaram a violência, segundo o documento intitulado “Un clima peligroso: Deforestación, cambio climático y violencia contra los defensores ambientales en la Amazonía colombiana” (Um clima perigoso: desmatamento, mudanças climáticas e violência contra os defensores ambientais na Amazônia colombiana, em tradução livre).

Segundo cifras do IDEAM, órgão estatal a cargo da violência ambiental, 70% do desmatamento no país se concentra nesta região “e continua aumentando: de 98.256 hectares em 2019 para 109.302 hectares em 2020”.

“Embora esta crise venha sendo gestada há décadas, mudou significativamente desde a assinatura do Acordo de Paz entre o Governo colombiano e a guerrilha das Farc em 2016”, alerta o informe, elaborado pela Fundação Ideias para a Paz (FIP) e o centro de estudos alemão Adelphi, com o apoio do Fundo Mundial para a Natureza (WWF).

– Um “vácuo” mortal –

“Uma complexa e flutuante rede de grupos armados ilegais, atores privados e alguns funcionários corruptos aproveitaram o vácuo de poder deixado pelo desarmamento de grande parte das Farc para ampliar seu poder e suas atividades econômicas ilegais, as quais, em sua maioria, impactam negativamente a natureza”, explica o texto.

“As comunidades locais, as organizações não governamentais e as instituições estatais que tentam proteger a Amazônia entraram em conflito com os interesses destes grupos poderosos e (…) se tornaram cada vez mais alvos de ataques”, enfatiza Juan Carlos Garzón, pesquisador da FIP e um dos autores da análise.

Segundo a ONG britânica Global Witness, a Colômbia foi em 2020 o país mais perigoso para os defensores do meio ambiente: 65 deles foram assassinados.

As comunidades indígenas “foram especialmente afetadas por esta situação, pois estão perdendo suas terras e seus meios de sustento, e são objeto de violações dos direitos humanos, violência e deslocamento”, denunciam as ONGs.

A Amazônia colombiana ocupa quase um terço do território do país (400.000 km2). Cerca de 120 km do rio Amazonas fluem por esta região, que concentra ricas fauna e flora. Letícia, a capital, é um importante porto comercial fronteiriço com o Brasil e o Peru.

Entre as zonas mais afetadas “se encontram os Parques Nacionais Naturais Serranía de Chiribiquete, Tinigua e Sierra de La Macarena, assim como a Reserva Indígena Nukak Makú”.

O relatório destaca que as medidas das autoridades para proteger os ambientalistas “careceram de recursos e capacidades suficientes e não têm conseguido desempenhar um papel significativo para reduzir os riscos”.

O país atravessa o pior surto de violência desde o desarmamento das Farc. Grupos de rebeldes que se afastaram do acordo de paz, grupos de traficantes de drogas de origem paramilitar e a guerrilha do ELN disputam as receitas das atividades ilegais em zonas onde o Estado tem uma presença frágil.

Operações militares como “Artemisa” e outras iniciativas de segurança destinadas a frear o desmatamento “não têm conseguido debilitar as redes que impulsionam a insegurança e a degradação ambiental”.

“Ao contrário, têm sido fonte de preocupação pelos casos de abuso da força, violação dos direitos fundamentais e as tensões que geraram entre as comunidades”, destaca o documento.

Os autores sugerem “abordar o controle do desmatamento e as atividades ilegais como parte de uma estratégia de paz mais ampla” em um país castigado por seis décadas de conflito armado, com mais de nove milhões de vítimas, a grande maioria deslocados.