O consumidor que quiser comprar uma nova TV ou trocar de celular provavelmente não terá grandes vantagens de preço no site brasileiro da Amazon. Na quarta-feira, 18, a gigante americana passou a vender eletrônicos no País, depois de quatro anos dedicados aos livros. Segundo levantamento feito pela reportagem do ‘Estado’, com produtos populares como o smartphone Moto G5 e o videogame PlayStation 4, a empresa tem preços similares aos praticados por rivais.

Um dos motivos é o modelo de negócio adotado pela gigante do e-commerce no País. Em vez de vender produtos diretamente ao consumidor, ela optou pelo marketplace, em que lojas de terceiros usam seu site como “vitrine” para seus produtos e são responsáveis pelas mercadorias que vendem e entregam ao consumidor. A Amazon fica responsável por operar o site e fazer o atendimento ao cliente. O modelo já vinha sendo adotado pela empresa no mercado de livros desde abril.

“Quando a venda é feita diretamente pela Amazon, como nos EUA, a empresa tem mais facilidade para dar grandes descontos e pode ser agressiva nos preços”, explica Pedro Guasti, presidente da consultoria eBit, especializada em e-commerce. “Como no Brasil eles usam o modelo de marketplace, os produtos são de terceiros, então é mais difícil trazer essa competitividade.”

Outra limitação que o modelo de marketplace impõe é a quantidade finita de potenciais parceiros. Parte significativa das empresas que vendem seus produtos por meio de sites de renome não é exclusiva. Assim, é comum encontrar os mesmos fornecedores na Amazon e em outros sites como Magazine Luiza, Extra, Americanas.com ou Ponto Frio.

“Nesse modelo, se o parceiro fizer algo errado, a reputação da empresa pode ficar arranhada. Por isso, a Amazon está fazendo escolhas seletas de lojas terceiras”, diz Guasti. A seletividade, por sua vez, aumenta a probabilidade da gigante americana de ter “colaboradores” em comum com a concorrência.

Embora seja um modelo limitado, ele é útil para a gigante norte-americana conhecer o consumidor brasileiro, sem ter de fazer grandes investimentos, por ora, no Brasil. Para ser mais competitiva, a empresa fixou a comissão cobrada pelas vendas em 10% do valor – a média nacional gira em torno de 12%, segundo fontes.

Esse “desconto”, no entanto, não se reflete, necessariamente, no preço praticado pelos terceiros ao consumidor.

Longo prazo

Para analistas ouvidos pela reportagem, o diferencial da Amazon para o consumidor brasileiro só deve aparecer daqui a algum tempo. “É uma empresa que sabe, com inteligência artificial, compreender o que o consumidor quer, a partir de pesquisas e preferências de compra anteriores, e transformar isso num serviço eficiente”, diz Silvio Laban, professor de marketing do Insper.

Para Alberto Luiz Albertin, professor especializado em comércio eletrônico da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), o fato de a Amazon ter sido pioneira no modelo de marketplace globalmente dá à empresa vantagens em inovação. “Ela tem a legitimidade do processo de gerenciar as duas pontas: quem vende e quem compra um produto.”

O atendimento e as parcerias construídas pela empresa em logística nos últimos quatro anos também podem ajudar a companhia a se diferenciar. “O cenário vai mudar de acordo com o quanto a Amazon estiver a fim de ‘comprar o mercado'”, diz Guasti, da eBit. “Frete grátis e parcelamento em 12 vezes sem juros são fatores que podem encantar o consumidor, mas isso só vêm com o tempo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.