No universo Amazon, a reunião de acionistas agendada para esta quarta-feira (26) já é vista como emblemática, uma espécie de antes e depois na história da empresa. De um lado, deve ser a última tendo à frente Jeff Bezos, seu fundador e CEO. O homem mais rico do mundo – na segunda-feira (24) ele ficou em segundo lugar por quatro horas, mas recuperou a ponta – já anunciou que deixará o cargo, até setembro. Por outro lado, a companhia nunca viveu um período tão rentável. Apenas no primeiro trimestre, a receita diária de vendas líquidas (produtos e serviços) chegou a US$ 1,2 bilhão. Domingo a domingo, a gigante tecnológica fundada em 1994 e que fez o IPO em maio de 1997 coloca em sua caixa registradora cerca de R$ 6,4 bilhões. Coisa de R$ 2,2 milhões nos 30 segundos que você levou para ler este parágrafo.

Essa dinheirama gerou um lucro líquido de US$ 8,1 bilhões no trimestre, 220% superior ao do primeiro trimestre de 2020. Há duas formas de ler o resultado. Uma é simplista: a pandemia acelerou o consumo digital. É fato. Mas sozinho ele não explica o que é a Amazon. Para entender o que a companhia fez, é preciso olhar de uma maneira mais complexa. E entender a cabeça de Jeff Bezos. Parte da resposta será dada amanhã, quando certamente ele será questionado sobre o futuro da empresa sem sua figura no comando. No documento de 84 páginas com a pauta da agenda desta quarta-feira, há um breve perfil de cada um dos dez membros do Board da Amazon. Nele, são descritas as qualificações e habilidades de Bezos. “Seu ponto de vista focado no cliente, sua disposição para incentivar a inovação e sua perspectiva de longo prazo.” Uma trinca reveladora. Mais que isso. Algo que está no DNA da Amazon desde o começo. Foco no Cliente+Inovação+Longo Prazo. Nada menos.

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Em 1997, na sua primeira carta aos acionistas, Bezos escreveu os mantras nos quais assentaria a Amazon. “É tudo sobre longo prazo”, escreveu. “Queremos compartilhar com você, acionista, nossa filosofia de gestão.” E três itens se destacaram naquela carta:

– Continuaremos a nos concentrar incansavelmente em nossos clientes.

– Continuaremos a aprender com nossos sucessos e fracassos. E tomaremos decisões de investimento ousadas, em vez de tímidas. Alguns desses investimentos valerão a pena, outros não. Mas teremos aprendido uma lição valiosa em ambos os casos.

– Continuaremos a tomar decisões de investimento à luz das considerações de longo prazo, em vez de considerações de lucratividade de curto prazo, ou reações de Wall Street de curto prazo.

Você investiria numa empresa com essa filosofia? Há 24 anos, no IPO as ações foram vendidas a US$ 18 cada. Como houve três desdobramentos entre 1998 e 1999 (o acionista passa a ter mais ações, mas no mesmo valor do investimento à época) cada papel foi multiplicado por 12. Assim, se você investiu comprando 50 ações a US$ 18 em maio de 1997 e as guardou até hoje, gastou US$ 900 de suas economias. Elas valiam nesta segunda-feira (24) US$ 1,9 milhão. Sim. Quase US$ 2 milhões. Dólares! O valor de mercado da Amazon passa de US$ 1,6 trilhão. É fato que houve pelo menos um grave efeito colateral nessa jornada, no tratamento dado a colaboradores de todas as frentes. Problema que a empresa passou apenas recentemente a minimizar. Falha de certa forma admitida pela corporação. Hoje, às vésperas de sua saída, há uma grande certeza. Bezos revolucionou o varejo do planeta. Com uma regra: obsessão pelo cliente. Esse é seu legado.