O “conhecido médico, daquela conhecida televisão” ajudou o governo federal a ganhar uma ação na Justiça envolvendo o novo coronavírus. Alvo de ataques nas redes sociais e de comentários depreciativos do presidente Jair Bolsonaro, o médico e escritor Drauzio Varella teve seus conhecimentos usados pelo governo em ação popular movida em Minas Gerais que pretendia obrigar a União e a Anvisa a realizar triagens e medição de temperaturas dos viajantes nos aeroportos brasileiros.

Num recurso de 25 páginas enviado à Justiça mineira, a Anvisa lançou mão de um artigo do médico publicado em 21 de março. Nele, Drauzio defende a tese de que medir a temperatura na testa, “com termômetros que parecem revólveres”, é um método impreciso porque os aparelhos medem a temperatura da pele, eventualmente diversa daquela do resto do corpo.

Além disso, o passageiro sem febre pode estar sob efeito de antitérmicos ou no período assintomático de incubação. Drauzio ressalta ainda que o número de diagnósticos feitos nos aeroportos do mundo é insignificante. “Os Estados Unidos, que obrigam a passar pela triagem em 11 aeroportos todos os cidadãos e residentes que estiveram na China nos últimos 14 dias, identificaram apenas um caso”, diz o médico no artigo.

Em 20 de março, o juiz federal Osmar Vaz de Mello, da 3ª Vara Federal de Minas Gerais, mandou União e Anvisa explicarem, em 72 horas, por que estavam impedindo que bombeiros e governos estaduais realizassem a inspeção em aeroportos. Foi no contexto deste recurso que os “conhecimentos científicos” de Drauzio foram usadas.

No recurso, a Anvisa destaca, com base nos dados do médico, que medidas como a “implantação de barreiras sanitárias nos aeroportos para realização de inspeção de passageiros” podem contribuir para o aumento da contaminação em razão do natural aumento da aglomeração que ações como essa geram.

O recurso foi acatado pelo juiz Osmar Vaz de Mello – ele entendeu que, “com base nas informações científicas colacionadas aos autos”, a competência de medidas nos aeroportos do País é da Anvisa e da União, não dos Estados.

Polêmica

Drauzio passou a ser criticado – principalmente das redes bolsonaristas – depois que apareceu no Fantástico, da TV Globo, abraçando uma mulher trans, condenada por estuprar e matar uma criança de 9 anos. Além disso, o médico foi provocado em rede nacional por Bolsonaro. “Aquele conhecido médico, daquela conhecida televisão”, disse o presidente, em referência a um vídeo gravado pelo médico antes da pandemia do coronavírus.

Sobre a briga judicial envolvendo os aeroportos, Drauzio disse que “a decisão da Anvisa foi sensata”. “No combate à epidemia, medidas governamentais devem ser tomadas com base nas melhores evidências científicas.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.