Nas férias de julho do ano passado, Leonardo Castilho, de 17 anos, viajou para a África do Sul – mas não foi a passeio. O jovem ajudou cientistas a coletar dados sobre a biodiversidade na savana e no mar. Leonardo faz parte de um grupo de estudantes de colégios particulares de São Paulo que se envolvem em expedições científicas fora do País. As experiências colocam os adolescentes em contato com pesquisadores e cara a cara com aquilo que antes só tinham visto nos livros ou nas telas.

No caso de Leonardo, foram 15 dias de viagem – roteiro compartilhado com colegas de escola e o professor. Lá, também conheceu alunos da mesma idade que vinham da Malásia e da Nova Zelândia, e cientistas de várias partes do mundo. Juntos, fizeram excursões em uma reserva com grandes mamíferos, como elefantes e rinocerontes, e mergulhos na Baía de Sodwana, na costa leste sul-africana.

A diversão era só um detalhe. “Ficávamos focados na observação de animais, plantas e aves para ajudar os cientistas a catalogar e manter o controle da fauna e da flora local”, explica Leonardo. As atividades começavam cedo – até para o professor que acompanhou os alunos. “São duas semanas de trabalho muito intenso. Acordávamos às 5 horas”, diz Henrique Bovo, coordenador do ensino médio do Colégio Rio Branco, em Higienópolis, na região central.

Todo o esforço era recompensado por experiências raras. “Estava mergulhando e comecei a ouvir algo. Então, vi uma baleia. Foi sublime”, lembra Leonardo, que cursa o 3.º ano. O Rio Branco tem parceria com a Operation Wallacea, uma organização inglesa que reúne cientistas em áreas como Genética, Botânica e Estatística. Esses pesquisadores acompanham alunos de ensino médio nas expedições, que funcionam como uma espécie de iniciação científica.

“Os alunos ficam entusiasmados. É o primeiro contato com ciência de verdade. E levam isso muito a sério”, afirma Nayara Hachich, diretora da Wallacea no Brasil. Lado a lado com cientistas, reúnem informações e fazem registros sobre espécies locais – dados que servirão para atividades de conservação e pesquisas científicas futuras. “Em uma expedição no Peru, uma aluna achou uma espécie de borboleta que acham que é nova. Se for mesmo, vai ganhar o nome dela. A aluna voltou saltitante”, conta Nayara.

Desde 2015, a Wallacea no Brasil já acompanhou cerca de 160 estudantes de ensino médio, e neste ano o total de viajantes deve chegar a 200, de 15 escolas. Realizada nas férias, a atividade é opcional e tem um custo extra. A temporada na África do Sul, por exemplo, custa US$ 1,9 mil (cerca de R$ 6,9 mil) – sem contar passagens áreas.

Sofia Larrabure, de 16 anos, e alguns colegas já se preparam para a viagem, no meio do ano. Eles vão a Honduras, onde ficarão acampados na floresta e mergulharão na região de recifes. Antes de embarcar, Sofia estuda sobre o que verá no país. “Recebi textos para me preparar”, diz a aluna do 2º ano do Colégio Stockler, no Brooklin, zona sul. Ela planeja desenvolver um projeto de pesquisa próprio sobre os corais de lá.

Para Thiago Rosa, professor de Biologia do colégio, é uma chance de contato de adolescentes urbanos com a natureza. “Para o alunos que está no meio da cidade, falta o corpo a corpo com outras espécies. Para mim, é mais conteúdo e repertório para trabalhar em sala de aula.”

Amazônia e Alasca. Professor do Colégio Poliedro de São José dos Campos, Paulo Sawaya, o Zezo, é outro que não esconde o gosto de ver estudantes no meio da mata. É embaixo de árvores da Amazônia – neste caso, em solo brasileiro mesmo -, que ele dá suas melhores aulas. “Passamos dois dias inteiros na floresta. Levamos equipamentos para medir temperatura, iluminação. Fazemos medição de folhas, estudo de solos. Pegamos amostras e fazemos microscopia.” Ele já levou alunos ao Alasca e ao Grand Canyon, nos Estados Unidos.

O projeto de Zezo foi incorporado ao calendário da escola e, desde então, quase mil alunos já viajaram. Além da parte de biologia, os alunos participam de ações de auxílio a comunidades indígenas e ribeirinhas. “Despertou em mim um lado mais humanitário que não sabia que tinha”, conta Luiza De Crescenzo Jorge, de 17 anos, que foi à Amazônia em 2017 e repetirá a experiência neste ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.