26/09/2007 - 7:00
Se há dois meses o Ibama era o único responsável pelo atraso na construção das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, hoje o projeto está emperrado pela briga entre Vitor Hallack, presidente da Camargo Corrêa, e Emílio Odebrecht, sócio da Norberto Odebrecht. O prêmio da disputa é um contrato de R$ 13,5 bilhões. Trata-se do maior projeto do País, carro-chefe do Programa de Aceleração do Crescimento, e que renderá à vencedora R$ 1,9 bilhão, segundo cálculos preliminares. Por isso, além de Odebrecht e Camargo, estão interessadas Suez, Votorantim, Andrade Gutierrez, Alusa, CPFL, Light e Cemig. Grandes bancos também se movimentam atrás de uma parcela do dinheiro. O Santander e o português Banif formaram um fundo de investimento para entrar como sócios do consórcio liderado pela Odebrecht. A expectativa é que R$ 400 milhões sejam amealhados entre investidores nacionais e estrangeiros. O problema é que a briga entre Odebrecht e Camargo pode atrasar o início das obras, previsto para junho de 2008. Técnicos do Ministério de Minas e Energia já comentam que o leilão que definirá o vencedor para a hidrelétrica de Santo Antônio, marcado para 30 de outubro, será adiado. ?As coisas estão bem devagar?, reconhece João Canellas, diretor da Camargo.
A confusão a respeito do cronograma contagiou a formação dos consórcios. Há dois anos, a Odebrecht firmou contrato com a estatal Furnas para elaborar o projeto de engenharia, investindo R$ 150 milhões. Quando o Ibama liberou a licença ambiental para a obra, a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, defendeu a exclusividade da Odebrecht na associação com Furnas, enquanto outras alas do governo pregavam a concorrência.
A Odebrecht ameaçou ir à Justiça. Há um mês, a Eletrobrás anunciou que liberaria suas subsidiárias para que se juntassem às outras interessadas no projeto. A Chesf chegou a propalar que três empresas teriam manifestado interesse na sociedade. DINHEIRO apurou, junto aos interessados nas usinas, que há certeza do adiamento. Além disso, afora Odebrecht e Camargo, nenhuma outra teria condições de atender tanto às regras impostas pelo governo como às que os financiadores exigem como garantias. Para complicar o quadro, pela análise de especialistas, o consórcio vencedor da licitação para a hidrelétrica de Santo Antônio também deve levar a de Jirau, que tem leilão previsto para março de 2008. Quem vencer a disputa já terá instalado o maquinário no local e, por isso, terá como fazer a obra da segunda usina com custos bem menores. ?Sem informações niveladas não existe concorrência?, reclama Victor Paranhos, diretor da Suez Energy.
Para piorar ainda mais o quadro, a projeção de custo da energia gerada pela hidrelétrica de Santo Antônio subiu mais de 80% na nova versão do estudo de viabilidade econômica apresentado por Odebrecht e Furnas. Quando a usina foi incluída no PAC, em janeiro, o custo da obra era estimado pelo governo em R$ 9,2 bilhões. Os números apresentados pelo consórcio levam em conta medidas impostas pelo Ibama para contornar impactos ambientais. Com isso, o custo estimado para a energia subiu de US$ 23 para US$ 42 por MW/h. ?É um aumento muito grande?, diz Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética. ?Já enviamos a planilha ao TCU e eles darão uma resposta até a primeira semana de outubro.? É nesse prazo também que deve sair o parecer da Secretaria de Direito Econômico, que chegou a cancelar o acordo de exclusividade que a Odebrecht firmou com GE, Alstom, VA Tech e Voith Siemens para o fornecimento dos equipamentos. Incitada pela Camargo Corrêa, a SDE acusou a Odebrecht de fechar o acesso dos concorrentes aos fornecedores. Caso a empreiteira não vencesse a disputa, as outras empresas interessadas no negócio teriam de importar turbinas e geradores pagando 14% a mais de impostos, tornando inexeqüíveis as propostas. ?Fizemos a nossa parte e firmamos acordos com informações estratégicas com essas empresas?, defende Irinei Meirelles, diretor de Investimentos da Odebrecht. ?Não é mais uma questão de fornecimento, mas de informações que trabalhamos, e investimos muito dinheiro, para conseguir.? Pelo que se vê, a luta está apenas no início.
