O produtor rural Gilcesar Zeny, que planta 2 mil hectares com soja, feijão, milho, trigo e aveia na região de Ponta Grossa (PR), não esconde a felicidade com o resultado da colheita este ano. Sem citar cifras, diz apenas que os resultados obtidos na última colheita superaram os de anos anteriores. E o lucro foi reaplicado no próprio negócio. “Neste ano, renovei uma colheitadeira e dois tratores, comprei mais um trator novo, além de insumos para a safra de verão inteira”, conta.

Não é só ele. Capitalizados por conta dos bons resultados da safra 2019/2020, os produtores ampliaram os investimentos na safra atual, que está sendo plantada. Isso faz girar a roda da prosperidade no campo, pois sinaliza ganhos de produtividade, se o clima não atrapalhar. Na MacPonta Agro, que revende máquinas agrícolas da marca John Deere, em Ponta Grossa, houve uma corrida dos agricultores para renovar a frota.

“A boa produtividade e a disponibilidade de crédito fizeram este o melhor momento para compra”, diz o diretor comercial da revenda, Gedor Vieira. Segundo ele, o movimento se estende para 2021, pois os contratos futuros para a próxima safra estão garantindo bons preços e desenham um cenário positivo.

“O produtor está investindo pesado mesmo”, diz Leandro César Teixeira, superintendente de Relação com Cooperado da Cocamar, uma das grandes cooperativas do agronegócio do País, com sede em Maringá, norte do Paraná.

Antes do plantio da safra atual de soja (que começou a ser semeada em outubro na região), a Cocamar já tinha vendido mais insumos do que tinha comercializado para a safra 2019/2020 até fevereiro deste ano. Essas compras envolvem adubo, defensivos, sementes e máquinas, por exemplo.

Teixeira conta que os agricultores da cooperativa estão capitalizados e a inadimplência nas compras de insumos está na mínima histórica, entre 1,5% a 2%. Além disso, o ritmo de comercialização antecipada dos grãos é muito forte, o que amplia a disponibilidade de recursos para investimentos. Na soja, 40% da próxima safra foram vendidos antes do plantio. No milho safrinha, a ser semeado só em fevereiro de 2021, já 10% da produção hoje está comercializada. “Vislumbramos que o ano que vem será bastante positivo para o agronegócio”, prevê Teixeira, levando em conta um volume ainda maior de investimentos em tecnologia.

Fator principal

Especialistas afirmam que a desvalorização do real em relação ao dólar neste ano é o principal fator que turbinou a receita dos agricultores de grãos, cujos preços são definidos no mercado internacional. Acontece que muitos custos para produzir esses grãos – como fertilizantes, defensivos e até o diesel usado para tocar as máquinas – também estão atrelados ao câmbio. Com a alta do dólar, seria natural esperar que as despesas ficassem pressionadas, até anulando o ganho obtido com a safra. No entanto, não foi isso que aconteceu neste ano.

Um levantamento feito pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostra que os agricultores conseguiram ampliar as margens de lucro em todos os grãos, mesmo gastando mais para colocar a safra de pé. A margem bruta (lucro) da soja produzida em Cascavel (PR), por exemplo, aumentou 207% em relação a 2019 e foi o melhor resultado para a região desde que o levantamento começou a ser feito pela CNA, há mais de dez anos. Em Sorriso (MT), por sua vez, a margem da soja cresceu 37% e superou em 11% a média de três anos anteriores.

Também o milho, que tradicionalmente era uma lavoura que só pagava os custos e não sobrava muito para o produtor, teve resultado extraordinário por causa dos preços recordes. Em Cascavel (PR), a margem neste ano da segunda safra de milho foi multiplicada por seis em relação à obtida em 2019, mostra o levantamento. A margem bruta obtida com a produção de arroz, que desde a safra 2009/2010 não era suficiente para cobrir todos os custos, interrompeu em 2020 a sequência de anos ruins.

Segundo o agrônomo Fabio Carneiro, assessor técnico da CNA, o lucro bruto do agricultor aumentou porque ele tem profissionalizado a gestão. “Investiu, aumentou a produtividade, vendeu soja antecipada para travar custo e melhorou a gestão de risco”, explica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.