A tentativa de recuperação das perdas recentes das bolsas internacionais, a valorização das commodities e o crescimento das vendas do varejo brasileiro traduzem em alta do Ibovespa nesta quarta-feira, após o recuo de 1,44%, da véspera, para os 125.094,88 pontos, em meio a desconforto principalmente com ruídos políticos internos.

As bolsas europeias sobem impulsionadas por revisões para cima no crescimento da zona do euro, enquanto investidores esperam a ata da mais recente reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que sairá às 15 horas. O documento pode trazer sinais mais claros sobre as próximas ações do Fed. Enquanto isso, as bolsas americanas sobem de forma moderada.

“O mercado ficará de olho para saber a avaliação do Fed sobre se há uma desaceleração do crescimento, se o processo de recuperação já se esgotou em meio a tanta liquidez”, avalia Thiago Raymon, head de Estratégia na Wise Investimentos, escritório plugado ao BTG.

O economista Carlos Lopes, do BV, acredita que a ata não trará “uma grande mudança de sinalização do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), mas pondera que o documento não deixa de ser o evento mais importante do dia para os mercados.

Conforme Raymon, a eventual indicação de retomada de alta dos juros nos EUA e de início da retirada dos estímulos fiscais tende a ser ruim para emergentes, como o Brasil, o que deve gerar pressão principalmente no câmbio. “Isso pode levar a uma fuga de investimentos do Brasil”, diz.

Além da valorização do petróleo no exterior, após o recuo da véspera, as ações da Petrobras podem se beneficiar do anúncio de aumento em 7% nos preços de venda de gás natural da estatal para as distribuidoras. Às 10h43, os papéis da estatal tinham sinais mistos: PN subia 0,58% e ON caía 0,10%. Já o minério de ferro negociado em Qingdao, na China, fechou em leve alta de 0,01%, a US$ 222,39 a tonelada. Ainda assim Vale ON avançava 1,07%.

Apesar de o crescimento das vendas do varejo em maio terem ficado aquém das medianas na pesquisa Projeções Broadcast, anima o setor na Bolsa. As ações de Magazine Luiza ON, por exemplo, lideravam a lista das oito maiores elevações do Ibovespa, com alta de 3,51% às 10h44.

A visão é de que os dados consolidam a ideia de recuperação da economia interna. Conforme o IBGE, o varejo restrito está 3,9% acima do pré-pandemia. No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, as vendas operam 1,6% acima do pré-pandemia. “É um sinal de que as coisas estão andando, mas ainda tem muito para correr. O desemprego está alto”, analisa Raymon. Contudo, fica no radar a queda na produção de veículos, de 13,4% em junho ante maio, pela Anfavea.

Internamente, a preocupação com o cenário na política deve continuar, podendo limitar alta no decorrer do dia na B3, assim como pode desagradar ao mercado o novo debate na equipe econômica sobre a reforma do Imposto de Renda para pessoa jurídica. A equipe econômica pretende atrelar uma redução maior do IRPJ para todas as firmas do País a um corte expressivo de subsídios tributários que são usados apenas por alguns grandes conglomerados.

“O ambiente político deve ter mais um dia carregado pelos trabalhos da CPI da Pandemia. O colegiado escuta hoje Roberto Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, que foi acusado de ter pedido propina e feito pressão indevida para a compra de vacinas pela pasta”, observa em nota a XP Investimentos.

Podem desagradar ainda as incertezas sobre privatização. O procurador-geral da República, Augusto Aras, manteve posição contrária à venda dos Correios. Já o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mudou o texto da MP, que abre caminho para a desestatização da Eletrobras, por ‘inexatidão’. A despeito disso, as ações da Eletrobras subiam 0,40% (PNB) e 0,86% (ON) às 10h47. O Ibovespa tinha alta de 0,71%, aos 125.980,65 pontos, após máxima diária aos 126.305,45 pontos.

Em tempo: no dia 5, houve entrada de fluxo estrangeiro da B3 de R$ 230,933 milhões.