José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), alerta que o forte aumento do custo dos materiais de construção pode acabar freando o ritmo de novos empreendimentos imobiliários, que vem batendo recordes de vendas. No primeiro trimestre deste ano, 57,1% das companhias do setor apontaram a falta ou o alto custo dos insumos como principal problema.

“Salta aos olhos como as empresas de construção estão tirando o pé do acelerador. Quando começa a haver aumentos de preços de unidades na planta, isso é um balde de água fria para as pessoas. Não sei como será daqui para frente”, diz Martins.

O executivo lembra que as companhias venderam muitos imóveis na planta no ano passado, travaram o preço nos financiamentos contratados e, agora, precisam construir com custo mais elevado. “Se o custo aumenta, o empresário precisa absorver na margem. A incerteza continua grande e um imóvel não é um produto para entregar amanhã – são dois ou três anos para construir”, completa.

Para Roy Martelanc, coordenador da pós-graduação em Negócios do Mercado Imobiliário da Fundação Instituto de Administração (FIA), mesmo com o encarecimento dos imóveis vendidos na planta, o mercado seguirá aquecido em 2021.

“Isso porque a demanda é que está fazendo os preços subirem, e não o contrário”, afirma o professor. “Os preços de imóveis na planta sobem e, com isso, a demanda é freada um pouco. Mas estamos vivendo uma onda de crescimento.”

O aumento atual do custo é semelhante ao visto no início da década passada. Na época, com a demanda aquecida, faltaram insumos básicos para a construção civil e os preços dos imóveis dispararam. “Agora é a mesma coisa. Desde o segundo semestre de 2020 há dificuldades para se encontrar aço”, exemplifica Martelanc.

O avanço dos preços de imóveis na planta também contamina as unidades usadas. O fenômeno é igual ao observado no mercado de veículos, em que a alta de preço do carro novo faz o valor do usado subir. Isso ocorre porque, se o valor do novo está mais elevado, parte da demanda é direcionada para o usado – que encarece.

Ainda assim, Cristiane Portella, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), considera que os preços dos imóveis seguem relativamente baixos, em nível inferior ao verificado em 2014 – já corrigido pela inflação.

“Há algumas bolhas com preço maior por metro quadrado, mas nas dez principais capitais do País os preços ainda são atrativos”, diz. “E, mesmo que o imóvel novo fique mais caro, ainda há um excesso de estoque de imóveis usados para venda. Já vimos uma redução no tempo de venda dessas unidades usadas. O mercado existe.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.