O dólar fechou esta sexta-feira (15) cotado a R$ 5,45, em queda de 1,11%. Após uma semana turbulenta, quando atingiu R$ 5,57 na quarta-feira (13) e forçou o Banco Central a vender US$ 1 bilhão por instrumentos de mercado, a moeda norte-americana teve sua maior queda em duas semanas, mas dá sinais de que vai seguir valorizado ante o real nos próximos meses.

Pesam nesse cenário de alta fatores políticos; a inflação galopante; o Risco País (a forma como o mercado observa a capacidade de investimentos no país e a possibilidade de calote do governo); alta dos juros pressionando menos investimentos e as expectativas pessimistas do mercado para 2022.

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Responsável pela Área de Câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem acredita que esses cinco pontos são fundamentais para a instabilidade do dólar. Para 2022 a moeda norte-americana deve seguir em alta.

“Sem previsão de mudanças radicais, é muito provável que o dólar fique acima dos R$ 5,20”, afirma o economista. A previsão vai em acordo com o Boletim Focus do Banco Central divulgado nesta semana, com consenso entre economistas apontando o dólar em R$ 5,25 até o fim do ano.

Fatores para a alta do dólar

Professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Josilmar Cordenonssi explica que dois cenários estão influenciando na desvalorização do real ante o dólar.

Problemas domésticos

Para Cordenonssi, a dificuldade na condução mais pacífica por parte do governo Jair Bolsonaro no âmbito legislativo e na economia são problemas para o arrefecimento da tendência de alta da moeda norte-americana.

Neste contexto, as ameaças de uma derrubada no Teto de Gastos, tanto por parte do governo quanto de candidatos presidenciais nas eleições do ano que vem, afetam na cotação do dólar

“No cenário doméstico, as ameaças de derrubar o teto de gastos, ou burlar, de forma legal, o espírito da lei, colocando fora do teto despesas correntes como o Auxílio Brasil e os precatórios, são temas que não estão resolvidos e são discutidos com grandes chances de aprovação nos próximos meses”, indicou.

Fatores externos

De acordo com Cordenonssi, o principal tema que movimenta a alta do dólar fora do Brasil envolve o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos. Por lá, a principal instituição monetária vem dando sinais de que vai diminuir as compras de títulos, o chamado “quantitative easing”, ou afrouxamento monetário, que foi adotado como forma de conter a quebradeira durante o auge da pandemia da Covid-19 e estimular o mercado.

Até o momento, o Fed vinha, mensalmente, injetando US$ 120 bilhões de dólares no mercado de títulos e a expectativa é que esse processo de estímulos chegue ao fim nos próximos meses.

“O Fed pode parar com este programa mais cedo do que o esperado e isso está fazendo com que as taxas de juros de curto prazo nos Estados Unidos, de até 10 anos, subam. Com essas taxas em alta, o dólar se valoriza até ante o Euro e isso vira um componente a mais para tornar o dólar aqui no Brasil mais caro”, explicou o professor.

Um pouco mais otimista do que Vanei Nagem, da Terra Investimentos, Cordenonssi acredita que existem condições econômicas para manter o dólar abaixo dos R$ 5, mas o ruído político é a maior trava no momento.

“Hoje, a confiança de sustentabilidade da nossa dívida está ancorada no Teto de Gastos. Quando Lula fala que vai tirar o Teto, por exemplo, ele vai colocar o quê no lugar? Isso gera mais incerteza e vai fazer com que o dólar continue alto e não caia abaixo de R$ 5 tão cedo. A não ser que venha uma terceira via, mais sensata, fazendo propostas econômicas razoáveis e que tenha apoio popular. Aí o dólar pode cair se esse candidato subir nas pesquisas”, observou o economista do Mackenzie.