Revogar o teto de gastos públicos e a reforma trabalhista. Usar os bancos públicos, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, para aprofundar a competição no sistema bancário. “Reestatizar” a Petrobras, que ainda é controlada pelo Estado. Criar o programa “minha primeira empresa” para permitir que todos tenham a “sensação” do que é ser empresário. Ainda faltam quatro meses para o primeiro turno das eleições presidenciais e muitas fake news ainda vão circular pelas redes sociais. No entanto, se nada mudar em relação à mais recente das pesquisas de intenção de voto, realizada pelo site Poder360 e divulgada na quarta-feira 6, o eleitor poderá ter de escolher entre essas duas propostas na hora de definir o novo presidente. Os dois candidatos que despontam na preferência dos 10,5 mil eleitores entrevistados por telefone são Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT).

Das quatro propostas que iniciam este texto, as três primeiras, francamente estatizantes, são de Gomes. A última, quase folclórica, é de Bolsonaro. Não por acaso, quando os números da pesquisa tornaram-se conhecidos, a reação daquela entidade chamada mercado (que nada mais é do que a soma das expectativas de milhares de investidores grandes e pequenos) foi imediata. O fato de os dois líderes na preferência do eleitorado não demonstrarem qualquer aderência aos princípios da estabilidade das contas públicas e da redução da atuação direta do Estado na economia fez soar todos os alarmes no sistema financeiro.

A reação não poderia ter sido outra. A quinta-feira 7 foi um dia de caos no mercado. Logo de manhã, a página do Tesouro Direto, que permite que investidores individuais comprem e vendam títulos públicos, interrompeu os negócios devido à volatilidade dos preços. No momento de maior baixa no dia, o Índice Bovespa chegou a amargar uma queda de 6,5%, retornando a níveis de novembro do ano passado. O dólar no mercado futuro bateu R$ 3,98. A cotação da moeda americana está longe dos R$ 4,10 dos momentos mais tensos do passado recente. Mesmo assim, o que chamou a atenção foi a oscilação de mais de 5% entre a máxima e a mínima do dia, que foi de R$ 3,79. No início da semana, Rogério Xavier, um dos gestores de fundos mais respeitados do País e que administra R$ 30 bilhões em ativos, disse em um evento fechado que o dólar poderá chegar a R$ 5,30 devido à soma do déficit das contas públicas com o déficit em transações correntes.

Peixes morrem pela boca. Políticos também, se seu discurso for francamente contrário às expectativas dos eleitores. Na eleição mais indefinida em quase três décadas, têm subido nas pesquisas de intenção de voto os candidatos com os discursos mais duros contra “tudo isso que está aí”, por mais nebuloso que isso possa parecer. Prometer aquecer a economia, baixar o desemprego e melhorar as condições de vida dos brasileiros a golpes de estatismo pode ser música para os ouvidos de uma parcela do eleitorado. A questão é que nada disso é exequível. Simplesmente não há dinheiro.

O valor real das promessas eleitorais tende a ser uma fração de seu valor de face. Falar durante a campanha eleitoral e, convenientemente, esquecer tudo o que foi dito após envergar a faixa presidencial é simples. O problema é que as declarações irresponsáveis dos candidatos têm um impacto profundo e desastroso. Elas pioram expectativas, o que adia ou cancela decisões de investimento e afeta ainda mais uma economia já combalida. Portanto, senhoras e senhores candidatos, mais atenção às palavras, por favor. Não faz sentido assestar os canhões da retórica para chegar ao poder e, lá chegando, presidir uma terra arrasada.