O montanhista nepalês Nirmal Purja anunciou, nesta terça-feira (29), que estabeleceu um recorde histórico ao escalar as 14 montanhas do planeta com mais de 8.000 metros de altura em apenas sete meses, depois de alcançar o topo do Shishapangma, monte tibetano de 8.027m.

“Missão cumprida!”, escreveu Purja em sua página do Facebook, ao escalar o Shishapangma. Ele completou a missão com sua equipe às 8H58 locais (21H58 de Brasília, segunda-feira) na última montanha de mais de 8.000 metros que restava por conquistar.

“Nims” Purja, de 36 anos e ex-soldado das forças especiais britânicas, era completamente desconhecido no cenário do montanhismo até iniciar sua missão, mas gradualmente foi conquistando o respeito e a admiração de seus pares.

O recorde anterior de escalada dos famosos “14 8.000” era do lendário polonês Jerzy Kukuczka, que completou a mesma façanha após sete anos, 11 meses e 14 dias em 1987. O italiano Reinhold Messner se tornou o primeiro a escalar os 14 picos um ano antes.

O sul-coreano Kim Chang-ho completou o desafio em um prazo um mês superior ao de de Kukuczka, Porém, ao contrário de Kukuczka, que morreu em um acidente de escalada em 1989, ele nunca usou oxigênio suplementar.

A princípio, o prazo de sete meses para alcançar os 14 cumes era visto como uma tarefa física e logisticamente impossível. O programa de escaladas era tão apertado que não permitia eventuais problemas que o obrigassem a fazer uma nova tentativa.

“Todos riam de mim”, afirmou Purja à imprensa em meados de outubro, pouco antes de tentar a última de suas 14 escaladas.

“É necessário ter confiança em sua capacidade. Você precisa ter um estado de espírito positivo, porque às vezes as coisas dão errado. Os planos não acontecem como você gostaria de pensar. Mas, apesar de tudo, você pode tornar o impossível em algo possível”, declarou Purja à AFP antes de sua última escalada.

A impressionante série de Purja começou em 23 de abril, quando chegou ao topo do Annapurna (8.091m), no Nepal.

Quase sem parar para respirar ou dormir, passando de um campo base para o seguinte de helicóptero, ele escalou algumas montanhas de uma só vez, sem parar nos acampamentos intermediários.

Na primeira parte de sua tentativa de recorde, Purja também escalou os montes nepaleses Dhaulagiri (8.167 m), Kanchenjunga (8.586 m), Everest (8.167 m), Lhotse (8.516 m) e Makalu (8.485 m).

Após algumas semanas de descanso, ele seguiu em julho para o Paquistão para a segunda parte da missão, onde escalou os temíveis K2 (8.611 m) e Nanga Parbat (8.126 m), assim como o Gasherbrum I (8.080 m), Gasherbrum II (8.035 m) e e Broad Peak (8.051 m).

No fim de setembro, Purja escalou o Cho Oyu (China, 8.188 m) e o Manaslu (Nepal, 8.163 m).

A conclusão da tarefa esbarrou no fechamento do parque onde fica o Shishapangma. Mas as autoridades chinesas concederam a Purja uma permissão especial para sua tentativa, após um pedido do governo nepalês.

Nascido em uma família modesta de um vilarejo do noroeste do Nepal, Purja passou 16 anos nas unidades Gurkhas do exército britânico, que deixou há poucos meses para se dedicar integralmente ao alpinismo.

Purja integra uma categoria de alpinistas que têm a velocidade como a marca mais característica. As escaladas “expressas”, no entanto, não agradam os puristas das montanhas.

“Sem levar em consideração o estilo (oxigênio suplementar, apoio de sherpas, vias clássicas, helicópteros entre montanhas, etc), o feito é extremamente impressionante”, declarou à AFP Alan Arnette, um popular blogueiro sobre alpinismo.

“Estabeleceu uma barreira que levará décadas para superar ou que nunca será superada”, completou.