EDITORIAL SEM IMAG.jpg

Você já se imaginou comprando ingressos para teatro ou cinema enquanto conversa com amigos em uma mesa de bar, ou navegando pela Internet e fazendo compras durante o trajeto para o trabalho? O que parece sonho começa a se tornar realidade, pelo menos para os brasileiros que possuem celular. Tudo isso será possível graças ao que os especialistas em tecnologia batizaram de m-commerce, a versão móvel do badalado e-commerce. A nova onda da Internet chegou às nossas praias nas últimas semanas, tão logo o governo definiu a tecnologia a ser usada na Banda C da telefonia celular ? e também nas futuras bandas D e E. Como os celulares já são muito mais populares que os computadores, as estimativas são de que o m-commerce transforme-se rapidamente em um fenômeno de proporções estonteantes. Somente a Telesp Celular espera ter 500 mil usuários conectados em seu recém-lançado sistema de Internet celular até o fim do ano. As outras operadoras também começam a se movimentar atrás de conteúdo e sócios para viabilizar o negócio. E que negócio. Segundo a consultoria americana Yankee Group, o Brasil terá 1,4 milhão de celulares WAP (Wireless Application Protocol, tecnologia que permite acesso sem fio à rede) no final de 2001. Em 2005, serão cerca de 28 milhões ? o número de usuários da Internet fixa teria de crescer 400% para chegar a essa marca. No mundo todo, estima-se que haverá 200 milhões de telefones navegando na rede em menos de cinco anos. Com isso, cerca de 30% do comércio eletrônico migrará para aparelhos móveis, fazendo com que o faturamento global com m-commerce atinja a marca de US$ 200 bilhões em 2004.

?A Internet no celular abre um novo mundo de oportunidades de negócios?, afirma Abílio Henriques, presidente da Telesp Celular, uma das primeiras empresas a montar uma estratégia completa para m-commerce. No ano passado, a Portugal Telecom, controladora da empresa, gastou US$ 365 milhões para adquirir o portal brasileiro Zip.Net. Agora, o conteúdo Internet fixa está sendo redirecionado para a móvel. ?Não vamos vender vestidos ou sapatos?, diz Lucas Longo, gerente de novos negócios do portal. Os principais serviços oferecidos pelo ?wapsite? da Zip.Net serão e-mail, agenda, bancos, reservas de restaurantes e ingressos, além de serviços de chaveiro e mecânico. Essa será, de fato, a principal diferença entre os primos e-commerce e m-commerce. Pelos PCs passarão uma parte das transações eletrônicas para pessoas físicas ? principalmente a de bens de maior valor ? e a totalidade dos negócios entre as empresas, o chamado B2B. As vendas pelo celular (e também por outros aparelhos portáteis, como laptops, computadores de mão) se concentrarão em produtos de pequeno valor, mas de alta rotatividade.

As incríveis projeções em torno do m-commerce aguçaram o apetite de operadoras, fabricantes de equipamentos, provedores e portais, que iniciaram uma corrida em busca de parcerias que os coloquem em condições de brigar por esse mercado. O UOL, provedor líder da Internet fixa no Brasil, uniu-se à fabricante de celulares sueca Ericsson e à BCP, operadora da banda B em São Paulo. Seu concorrente iG está fazendo acordos com a Telesp Celular e com a espanhola Telefônica, que atua no mercado de celular do Rio de Janeiro. O portal Starmedia diz que isso é assunto para o futuro, mas já possui contratos assinados com nove operadoras, com cobertura do Rio Grande do Sul ao Amazonas. As novas bandas C, D e E, que já nascerão na era da Internet móvel, trarão ainda mais concorrência e investimentos. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estima que, graças ao interesse na Internet móvel, deverão entrar no País cerca de US$ 10 bilhões até 2005. ?O Brasil será o paraíso do WAP no mundo?, aposta Murilo Tavares, presidente do Submarino.com.

As empresas que já atuam no varejo virtual também se preparam para a febre do m-commerce. O Shoptime, site de compras que fatura cerca de R$ 1 milhão por mês, por exemplo, começou este mês a realizar vendas através dos celulares da Telefônica Rio e TeleBahia. Foi um início modesto ? 20 negócios nos primeiros dez dias de julho ? mas serviu para marcar posição. ?Vendemos para quem vê tevê, lê catálogo, navega na rede e, agora, usa celular?, diz Maria Isabel di Célio, gerente de Internet do Shoptime. Em São Paulo, a incubadora Web Participações também colocou no ar dois empreendimentos de m-commerce: a MB Flores, a primeira floricultura virtual da Net brasileira, e a Funbynet, que vende ingressos para espetáculos. A MB espera atingir 3 mil usuários de celulares ainda este ano. ?Estamos esperando um grande número de acessos a esses dois projetos?, diz Renato Meirelles Caiuby, gerente de negócios da empresa.

Outro que ensaia os primeiros passos em direção ao m-commerce é o provedor de acesso gratuito iG. O portal criou uma empresa específica para o novo negócio, a SeliG, e já está vendendo flores e produtos da Americanas.com pelo celular. ?Vamos encontrar o consumidor onde quer que ele esteja?, resume Pedro Donda, presidente da Americanas.com. ?Qualquer portal que tiver visibilidade e uma boa proposta poderá vender nossos produtos?. De acordo com André de Carvalho, vice-presidente do iG, o SeliG finalizará em duas semanas a migração total do serviço para a Internet móvel.

São novidades feitas sob medida para um consumidor que estará em movimento e equipado com aparelhos moderníssimos. Afinal, a chegada da tecnologia GSM com a Banda C, prevista para entrar em operação no segundo semestre de 2001, vai turbinar ainda mais os celulares. A gigante alemã Siemens, por exemplo, já está testando um aparelho que viabiliza não apenas a venda de produtos, como também a entrega na mão do usuário ? mesmo que ele esteja parado em um congestionamento. Os celulares da Siemens terão GPS, sistema de localização por satélite utilizado por navios e aviões, para identificar e localizar quem fez a chamada em qualquer lugar do mundo. Com o m-commerce, o consumidor não precisará sequer digitar na telinha do aparelho o endereço de entrega.