Cada encontro com o francês Michel Friou, enólogo responsável pela produção dos vinhos Almaviva e EPU, em Puento Alto, no Chile, é uma aula. Depois de dois anos sem vir ao Brasil (devido às restrições da pandemia), ele voltou nesta semana com a safra 2019 do Almaviva. Em duas décadas, desde que foi criada pelas vinícolas Baron Philippe de Rothschild e Concha Y Toro, essa joint-venture tem merecido o reconhecimento da crítica pelo bem-sucedido esforço em elevar a qualidade do vinho chileno ao seu ápice. A cada safra, Friou e sua equipe enfrentam novos desafios para manter o compromisso de evoluir sempre, sejam quais forem os desafios climáticos. E para confirmar que ano a ano o Almaviva pode melhorar, o enólogo costuma trazer na bagagem garrafas de colheitas anteriores. Desta vez, além da 2019, vieram as de 2009 e 2016 – que, segundo Friou, foi o ano mais difícil de trabalhar devido às chuvas e ao frio, fatores que o obrigaram a “aprender tudo do zero”, mudando desde o manejo dos vinhedos até as práticas de vinificação. Para a safra de 2019, porém, o clima só ajudou.

As chuvas entre maio e setembro de 2018, período crítico para as videiras no Chile, somaram apenas 150 mm, contra 262 mm da média histórica. Em novembro, as temperaturas subiram, dando início a um verão quente que antecipou a maturação das uvas em uma semana frente ao prazo usual. Segundo o enólogo, essas condições resultaram em uvas de menor tamanho, mas superiores em qualidade, com “rica coloração e sabores intensos, maravilhosamente balanceadas”. O blend foi formado por 68% de Cabernet Sauvignon, 23% de Carménère, 5% de Cabernet Franc, 3% de Petit Verdot e 1% de Merlot. Foram usadas barricas de carvalho francês de primeiro uso, com estgágio de 18 meses.

Michel Friou, enólogo do Almaviva
Michel Friou, enólogo do Almaviva, que veio a São Paulo apresentar a safra 2019 (Crédito:Celso Masson)

Na taça, o que se nota é a generosidade da fruta, com destaque para aromas de framboesa, cassis, mirtilo e morango, aos quais se somam delicados toques de café, terra e até nanquim. Conforme a descrição de Friou, esse vinho “suculento e volumoso” preenche a boca com taninos polidos, deixando uma impressão geral de harmonia e persistência. Ainda jovem pelo potencial de guarda desse vinho excepcional, a safra 2019 tem tudo para evoluir de forma exuberante. E a comparação com as de 2009 e 2016 (com todas as dificuldades enfrentadas) só confirmam isso.

E para não ficarmos apenas comparando safras de um vinho dos sonhos, cuja garrafa pode passar dos R$ 3 mil, Friou apresentou também o EPU 2017, que segue os mesmos conceitos do Almaviva, apenas com alguns detalhes que o tornam mais acessíveis. Os vinhedos são mais jovens (média de 12 anos, contra 25 anos do Almaviva). O tempo em madeira é menor (12 meses, em barricas de segundo uso) e o blend se vale mais de Cabernet Sauvignon (83%). Com isso, seu preço para o consumidor final é de apenas 35% a 40% do valor cobrado pelo Almaviva, que é vendido na Place de Bordeuax antes de chegar ao Brasil.