Um movimento de defesa bilionário mostrou a resistência do governo argentino no combate à grave crise cambial que assola o país, dando alívio temporário à equipe do presidente Maurício Macri para se reerguer da escalada de tensão na economia das últimas semanas. Investidores temiam que o Banco Central tivesse dificuldades em rolar cerca de US$ 30 bilhões da dívida pública que venciam na terça-feira 15, o que poderia deflagrar um movimento maior de fuga de recursos do mercado local. Neste ano, o peso já perdeu mais de 20% do valor frente ao dólar, que seguia em disparada em meio à piora do cenário externo.

Para conter a saída de investidores, o banco central argentino elevou, no início de maio, a taxa de juros para 40%, no maior nível do mundo e abriu tratativas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para assegurar uma linha de empréstimo emergencial. O evento da terça-feira era visto como um teste para a saúde da economia. Além de queimar US$ 5 bilhões de reservas, o governo conseguiu emitir mais US$ 3 bilhões em novos títulos. “Não há melhor sinal de confiança dos mercados do que a compra de títulos em peso a uma taxa fixa num dos piores dias aos mercados emergentes”, afirmou o ministro das Finanças, Luis Caputo.

Para Mark Jones, economista especializado em América Latina da Universidade Rice, nos EUA, o governo ganhou tempo, mas terá de mostrar resultado nas próximas semanas. “É como um paciente que chegou no hospital baleado e foi estabilizado.” Segundo Jones, o desafio do governo ficará maior com o aumento dos protestos por sindicatos e as exigências que devem ser feitas pelo FMI. Com o sucesso das operações, o dólar caiu 4% no dia e voltou a operar abaixo da máxima de 25 pesos. Caso tivesse problemas, o governo poderia enfrentar uma nova onde de desvalorização da moeda.

Um relatório da Capital Economics divulgado na quinta-feira 17 estimou que o peso já está próximo do valor justo diante da queda de 26% no ano. Como o país enfrenta dificuldades para conter a inflação, que deve superar os 20% neste ano, a expectativa é de novos avanços do dólar a partir de 2019, quando a moeda deve ficar próxima a 30 pesos. Esses valores seriam necessários para reduzir o déficit externo de 5% do PIB para 3% do PIB, nível considerado sustentável nos padrões internacionais. A conta está negativa devido a emissões externas feitas pela equipe de Macri desde a renegociação que reabriu os mercados mundiais à Argentina. O rombo, porém, ampliou a exposição do país, afetou a moeda e reduziu o potencial do PIB. A Capital Economics, uma das mais pessimistas consultorias, não descarta uma recessão de 0,5% em 2018.