Julho foi uma montanha-russa de expectativas no mercado financeiro. No início do mês, a impressão era de que o pior da crise estava ficando para trás. A taxa de câmbio havia caído para R$ 4,90 e a inflação parecia controlada. No entanto, a passagem das semanas fez o jogo virar para pior. Agora, o cenário indica a volta do temor do aumento da inflação, tanto em reais quanto em dólares. Nos Estados Unidos, a inflação para o consumidor chegou a 5,4% nos 12 meses até junho, o maior nível em quase três décadas. Por aqui, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) supera 8% no período, muito acima dos 5,25% de teto da meta que deve ser seguida pelo Banco Central (BC). Boa parte disso deveu-se à alta dos preços dos alimentos, e essa pressão deve continuar. Segundo uma projeção da empresa de consultoria econômica LCA, os preços das proteínas animais, especialmente a carne bovina, podem encerrar o ano com uma alta de até 17%.

O descontrole dos preços eleva a probabilidade de aumentos das taxas de juros tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, com um impacto profundo nos preços das ações e na rentabilidade das aplicações de renda fixa. “Há um enorme receio de que a alta dos preços no Brasil chegue a dois dígitos, complicando o cenário ainda mais”, disse a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte. O IPCA-15, que funciona como uma prévia do IPCA e foi divulgado na sexta-feira (23), veio mais alto que o previsto e está em 8,59% em 12 meses. Segundo Consorte, o risco de o IPCA superar 9% neste ano é elevado.

Isso quer dizer que os agentes econômicos consultados para a elaboração do Focus esperam um aperto ainda maior na política monetária até o final deste ano. A meta de inflação é de 3,75 %, com uma tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. Assim, o máximo de inflação “permitida” para 2021 seria de 5,25%. Não há folga para os próximos anos: as metas de inflação para 2022, 2023 e 2024 são, respectivamente, 3,50%, 3,25% e 3,0%. Ou seja, a tarefa do BC não será fácil.

Essa piora das expectativas já foi capturada pelo mercado. Em sua edição mais recente, publicada na segunda-feira (26), o Relatório Focus, do BC, mostra que os prognósticos para a taxa de juros referencial Selic mudaram de patamar. A projeção para dezembro deste ano subiu para 7% ao ano, algo que não ocorria desde 2017. Para comparar, eram 6,5% há quatro semanas, e 5,75% no início de junho.

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“Há um enorme receio de que a alta dos preços no Brasil chegue a dois dígitos” Fernanda Consorte economista-chefe do Ourinvest.

IMPACTO PROFUNDO Isso terá um impacto profundo sobre os ativos financeiros. É bastante provável que a alta dos juros demore para fazer a inflação retornar ao centro da meta. Assim, as aplicações de renda fixa devem tornar-se mais atrativas do que foram nos últimos trimestres. E isso vale tanto para aquelas cujos rendimentos estão vinculados ao Certificados de Depósito Interfinanceiro (CDI) quanto para as indexadas aos índices de inflação.

Uma indicação são os Fundos de Investimento Imobiliário (FII). Boa parte dessas carteiras, em especial os fundos dedicados a Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), tem seus rendimentos indexados a índices de inflação. Assim, os FII são uma boa pedida, ainda mais agora que a proposta de reforma tributária em tramitação no Congresso manteve a isenção fiscal dos rendimentos.

Outra indicação são os FII e os títulos do Tesouro Direto cuja rentabilidade está ligada aos juros de mercado. Como a taxa dos CDI acompanha de perto a Selic, é bastante provável que os juros das aplicações subam e permaneçam elevados durante um bom tempo. Assim, depois de vários meses com rendimentos anêmicos, os títulos de renda fixa voltam a ser atrativos.

O que fazer? Segundo o analista de ações e consultor financeiro do aplicativo de investimentos Kinvo, Beto Assad, há poucas alternativas para o investidor exceto colocar parte de seu dinheiro em produtos financeiros atrelados à variação da inflação. Ele destaca o Tesouro Direto IPCA + e as debêntures ligadas a índices de preços, especialmente as incentivadas, cujos rendimentos são isentos de imposto. “Quem quer proteger seu patrimônio deve procurar produtos que acompanhem a variação dos índices, garantindo o ganho real no longo prazo”, disse ele.