Sempre à chinesa. Em silêncio. A plataforma AliExpress abriu dia 16 seu marketplace para os sellers do Brasil, de olho em um mercado que movimenta pouco mais de R$ 100 bilhões ao ano e que tem grande potencial de crescimento. Antes da entrada oficial, foram duas semanas de testes, já dando acesso de vendedores à loja on-line. “É um momento histórico para todo o grupo Alibaba. Para nós, globalização e localização estão de mãos dadas”, disse o turco Yaman Alpata, diretor de marketplace da AliExpress na América Latina, que precisou de tradutor para compreender a língua do país que pretende desbravar. Provavelmente por confiar na única língua universal: o comércio.

O principal benefício para convencer os vendedores brasileiros a migrar para a plataforma digital da empresa asiática está no valor da comissão que será paga pelos sellers, considerado mais atrativo do que as lojas on-line nacionais. Os porcentuais variam entre 5% e 8%, de acordo com a categoria do produto. Há 11 anos, a AliExpress vende para clientes brasileiros, mas até aqui eram só produtos comprados do exterior. O Brasil é o primeiro país das Américas a ter a modalidade de venda local.

A constatação de que a companhia pretende entrar de vez no ringue com os grandes players no Brasil foi a resposta dada por Yaman Alpata à entrevista do CEO do Magazine Luiza, Frederico Trajano, à DINHEIRO, na semana passada, sobre possíveis vendas de produtos sem nota fiscal. O dirigente da AliExpress reagiu na mesma língua, ainda que no sentido figurado: “Somos pioneiros no combate a produtos falsificados e defendemos os direitos de propriedade intelectual. Ele (Trajano) precisa enxergar sua própria plataforma e não a dos outros”, disse. “Provavelmente não está nos mencionado. Deve estar falando de qualquer outra empresa chinesa.” Mas estava mencionando sim.

Ainda que Alpata critique o tom duro usado pelo CEO do Magalu, que cobrou mais rigor das autoridades brasileiras na fiscalização dos marketplaces estrangeiros , o fato é que ainda falta transparência para o AliExpress, que desembarca no Brasil sem abrir os números. O executivo disse que está nos planos construir um centro de distribuição no Brasil, mas não disse como, quando e nem qual o custo. “O centro é o núcleo da operação logística e já começamos a trabalhar nisso. Não posso dar data específica, mas posso dizer que será em breve”, afirmou o diretor de marketplace.

O caminho adotado pela empresa para realizar as entregas em território nacional será pelos Correios. Para Viviane Almeida, gerente comercial do AliExpress no Brasil, o processo de privatização da estatal é visto hoje como um “ponto de atenção” pela plataforma chinesa. “Essa é uma ameaça que a gente tem há algum tempo. Eles são um parceiro estratégico nesse primeiro momento, mas em curto prazo vamos incluir outros”, disse. Isso inclui novas transportadoras. A executiva também afirmou que não sabe se há interesse, por parte do grupo Alibaba, na participação do processo de compra da estatal brasileira de logística.

MERCADO EM EXPANSÃO Brasil hoje ocupa a quinta posição no ranking de venda internacional da empresa chinesa. (Crédito:Reprodução)

HORIZONTE Segundo Viviane, o Brasil hoje ocupa a quinta posição no ranking do marketplace internacional da AliExpress, o que faz do país um grande mercado para a empresa também em vendas locais. “Já existia essa visibilidade da entrada, principalmente pelo tamanho do e-commerce brasileiro. É como se fosse um capim alto que precisa ser cuidado. É uma grande oportunidade.” Somente no ano passado, pelo menos 18 milhões de pessoas fizeram compras na internet pela primeira vez desde o início da pandemia, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm).

Outra questão sem resposta pela empresa chinesa está no horizonte de sellers e vendedores que já estão na plataforma. “Há uma enorme demanda nas primeiras semanas e já ultrapassamos expectativas que tínhamos em mente”, afirmou Alpata. “De acordo com minha impressão, vamos ter muitos vendedores”, disse o executivo turco, sem detalhar o número. Outro ponto sobre o qual ainda não há resposta assertiva é a chegada no Brasil do sistema de pagamento Alipay, no mesmo molde do adotado pelo Magazine Luiza, que anunciou na semana passada a maquininha Magalupay. A plataforma chinesa irá adotar a forma de pagamento por meio da fintech Stone e também pelo Pix.

Segundo Alberto Serrentino, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) e fundador da Varese Retail, o aumento significativo nas vendas tipo cross border, que é a comercialização de outros países, alcançou a marca de R$ 23 bilhões no ano passado, o que vem beneficiando a plataforma chinesa. “Eles vêm crescendo de forma robusta no Brasil, principalmente ao assumir a entrega dos produtos que vêm da China com voos semanais para o País”, disse. “A perspectiva é de que continuem aumentando, a partir do momento que isso se transformar em uma infraestrutura mais completa no Brasil.”

Na troca de farpas entre diferentes idiomas, a questão que fica é qual a língua que o cliente brasileiro vai querer falar. Pelo visto, será a do menor preço e da entrega rápida. A competição direta do comércio eletrônico está apenas começando. E vem pesada.