Em 2015, Felipe Siqueira, então consultor de Recursos Humanos, abandonou uma carreira estável para investir em roupas sob medida. A Oficina, que começou como uma startup, logo se tornaria a menina dos olhos do Grupo Reserva, cujo faturamento em 2019 está estimado em R$ 400 milhões. A grife conquistou empresários como Luciano Huck, Eduardo Mendes (Hotel Urbano) e Caito Maia (Chilli Beans). Agora, a marca busca expansão. Atualmente com duas lojas no Rio de Janeiro, a grife abriu essa semana a sua primeira operação em São Paulo, na badalada esquina das ruas Consolação e Oscar Freire. Em 2020, a Oficina quer abrir mais cinco operações no País.

Embora o foco da marca sejam produtos básicos e tradicionais, o ambiente da loja foge do varejo tradicional. Além de comprar roupa, o cliente pode aproveitar para fazer a barba enquanto toma um drink no bar Johnny Walker, o único da marca dentro de uma loja. “Desde início a gente queria oferecer um espaço acolhedor para o cliente. Recebê-lo como receberíamos um amigo em casa”, diz Felipe Siqueira.

Descrita pelos por seus fundadores como uma “fashiontech”, empresa com base tecnológica que atua na moda, a Oficina se inspirou nas lojas da Apple e Amazon e aboliu o caixa. O pagamento é feito por aplicativo. “Vamos a lojas que não são do segmento de moda e ficamos observando o que podemos extrair para as nossas operações”, diz o CEO da grife, Gabriel Zandomênico. “Nosso objetivo não é vender só um produto, mas também um serviço”.

AS NOVAS MEDIDAS Tudo começou em 2014, quando Siqueira pediu para um alfaiate ir até a Michael Page, empresa na qual trabalhava, para tirar suas medidas para um novo terno. O interesse dos colegas de escritório foi tanto que o alfaiate, em poucas horas, saiu de lá com vários pedidos. Foi o que fez Siqueira pensar em fabricar roupas sob medida, mas com uma roupagem moderna. A ideia deu início a seu novo empreendimento, a startup Social Tailor.

O objetivo era tornar o conceito de roupa sob medida mais acessível — até 50% mais barato que a alfaiataria tradicional — e escalável, com prazo de entrega de 15 dias, em vez de 60. Para isso era preciso desenvolver uma espécie de algoritmo que auxiliasse no processo de produção. Foi quando entraram como sócios no negócio o engenheiro Gabriel Zandomênico, atual CEO da Oficina, e o mestre em ciências da computação João Paulo Pesce. Mais tarde se somou ao time o administrador Arthur Bretas. “Não somos uma empresa tradicional de moda, não vamos a desfiles e nem estamos preocupados com a criação. O que fazemos é oferecer o que o cliente quer e procura”, diz Siqueira.

O negócio começou a funcionar com alguns consultores que procuram clientes de porta em porta. Eles tiravam as medidas e inseriam as informações em um aplicativo. O cliente também podia personalizar a roupa de acordo com sua preferência, escolhendo o tipo de punho, gola e outros detalhes. Hoje são mais de 300 mil combinações possíveis.

O negócio logo chamou a atenção de Rony Meisler, CEO do Grupo Reserva, quando um cliente importante elogiou a Social Tailor no Facebook. O comentário recebeu tantas curtidas que chegou ao feed do criador da Reserva. Em pouco tempo, ele e Siqueira sentaram para conversar. As negociações duraram um ano e, no final de 2016, a startup passou a fazer parte do Grupo Reserva.

Após a integração, a Social Tailor virou Oficina e transferiu seus negócios de Belo Horizonte, onde nasceu, para o Rio de Janeiro. A nova grife também começou a vislumbrar outras possibilidades e passou a oferecer peças prontas, embora as camisas sob medida ainda representem 25% do faturamento da marca.

SAPATOS E ACESSÓRIOS O pulo do gato foi possível porque, ao longo dos anos, foram coletados no aplicativo, que personaliza e insere as medidas do cliente, dados de 10 mil homens. Esses dados, segundo Siqueira, permitiram à Oficina desenvolver peças prontas mais assertivas para cada cliente. A grife também confecciona seus próprios sapatos e acessórios, mas oferece a possibilidade ao cliente de comprar peças das marcas New Balance, Verti e Vans. Apesar do plano de abrir mais lojas, a marca ainda mantém seus consultores, que atuam em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Salvador. Hoje são cerca de 100 alfaiates, mas a meta é duplicar esse número até 2020. “Queremos expandir também esse atendimento para outras cidades nos próximo ano”, diz Siqueira.