Em um intervalo de três dias, o presidente russo Vladimir Putin apertou a mão de dois importantes líderes mundiais. A primeira, a de Xi Jinping. O líder chinês foi chamado de “querido amigo” pelo ex-espião da KGB na abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, no sábado (5). A gentileza retornou em forma de promessa de parceria “sem limites” nas áreas militar e econômica. O segundo cumprimento foi o de Emmanuel Macron, presidente francês que desembarcou em Moscou, na segunda-feira (7), para atuar como mediador das crescentes tensões entre Rússia, Ucrânia e integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).Em uma reunião de mais de cinco horas no Kremlin, Macron e Putin se comprometeram a buscar soluções diplomáticas para evitar uma guerra. Nada concreto.

O ACENO DE PUTIN Encontro do presidente da Rússia e o líder chinês Xi Jinping deixou o mundo apreensivo; neste momento encontro com Bolsonaro seria uma cilada diplomática (Crédito:Pavel Golovkin)

Entre os dois encontros, o primeiro soou como o mais preocupante para o Ocidente. A união de Rússia e China acende o alerta vermelho na geopolítica global, principalmente por causa do atual clima bélico na fronteira russa com a Ucrânia, o mais tenso desde a Guerra Fria. Juntos, Putin e Jinping unem a segunda e a terceira maiores forças militares do planeta contra o avanço da influência americana na Ásia. A fronteira da Rússia com a Ucrânia está ocupada por mais de 100 mil soldados russos, o que disparou alarmes em vários ministérios das Relações Exteriores pelo globo, que falam da possibilidade de guerra. A principal exigência do governo russo é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não vai aderir à Otan, uma aliança defensiva de 30 países liderada pelos Estados Unidos. Putin enxerga essa adesão como uma ameaça à sua segurança. A Ucrânia é considerada a fronteira ocidental da Rússia.

Para o doutor em ciência política da USP, Gunther Rudzit, a cada dia cresce mais a pressão por um conflito. “A Rússia está com 70% de todo material e homens que necessitaria para invadir a Ucrânia em larga escala pronta na fronteira”, afirmou, em entrevista à Jovem Pan. “Os tanques blindados não estão na base. Se não estão na base significa que estão no campo e, portanto, é a pressão que o presidente Putin vem fazendo.”

ERRO DIPLOMÁTICO Enquanto as maiores potências do planeta adotam estratégias próprias, com suas ogivas nucleares, para conquistar terreno na queda de braço da diplomacia, o Brasil se apresenta no front com espingarda de chumbinho. A decisão do presidente brasileiro Jair Bolsonaro de visitar a Rússia, na segunda (14), é vista como mais um tropeço diplomático do governo.

TROPAS PRONTAS A fronteira da Rússia com a Ucrânia já conta com 100 mil soldados russos (Crédito:Divulgação)

O ex-embaixador dos EUA no Brasil (1994-1998), Melvyn Levitsky, que também trabalhou na embaixada americana em Moscou, considera que Bolsonaro dá um sinal errado ao mundo. “A viagem não faz sentido nos termos da posição do Brasil sobre a lei internacional”, afirmou o diplomata, em reportagem publicada pela Folha de S.Paulo. “O País tem uma reputação de ser muito cuidadoso sobre o respeito às regras internacionais. É um membro muito ativo da ONU, e a Carta da ONU proíbe tentar resolver uma disputa ou impor sua vontade a outro país por meios militares”, disse Levitsky, 83, hoje professor de política internacional na Universidade de Michigan.

A visão de Levitsky está em sintonia com a do cientista político e professor de Relações Internacionais da UERJ, Maurício Santoro. Segundo ele, o governo brasileiro precisa agir com cautela diante do cenário delicado da região. Para ele, o momento é de prudência, tem que se concentrar em buscar no exterior recursos de investimentos, cooperação, para recuperar a economia, em um cenário que já é sombrio e de baixo crescimento, mesmo sem guerras.

O professor avalia que Bolsonaro deveria evitar confronto com parceiros comerciais, e esse conflito na Ucrânia opõe países importantes para o Brasil. No caso da Rússia e China, para o mercado do agronegócio, além de fazer parte dos Brics. Já EUA e Europa compram praticamente todo produto industrializado que o Brasil exporta, de sapato a aço, de avião a caminhão.