Vai ser grossa a tempestade depois da calmaria. Sindicalistas de todas as correntes, mareados pelo balanço repetitivo entre desemprego forte, inflação fraca e PIB vazante desde que o real zarpou em 1994, sentem que o enjôo passou. Todos os dias nas últimas semanas há reuniões de bastidores nas quais se fala em aumento salarial de 20% e redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais. Os ânimos nunca estiveram tão acesos, as propostas nunca foram tão ousadas e os sindicalistas nunca se sentiram tão fortes e organizados. Atenção, empresários!

A face mais visível desta movimentanção despontou na terça-feira, 12, quando os presidentes das duas maiores centrais sindicais do País sentaram-se lado a lado para anunciar uma aliança consumada uma única vez, no distante 1985. ?Estamos mais maduros e conscientes?, diz o metalúrgico Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, cuja tropa de 6 mil ativistas se volta, agora, para aquecer os ânimos de 1,6 milhão de trabalhadores de 14 diferentes categorias profissionais com datas-bases de setembro a dezembro. ?Divergências ideológicas ficam em segundo plano quando o assunto é salário e condições de trabalho?, afirma o professor João Felício, presidente da CUT, onde se aninham entidades de categorias que estão em pleno processo de campanha salarial e sempre dispostas a endurecer o jogo da luta da luta de classes, como a dos bancários, petroleiros e químicos. Também o presidente da CGT, Antônio Carlos dos Reis, o Salim, rema junto. ?A hora é de união.?

Na raiz dos discursos estão os números da economia. Pelo sétimo mês consecutivo o desemprego no setor industrial apresentou queda, com uma taxa média apurada pelo Dieese de 18,6% em julho de 2000 contra 20% no mesmo mês do ano passado. Na outra ponta da gangorra, a inflação subiu. Dados oficiais da Confederação Nacional da Indústria mostram um aumento de 4,94% nas vendas da produção industrial em julho comparadas com junho e queda de 0,84% da massa salarial distribuida pelas empresas. Para a atual safra de dissídios coletivos, esses números são um maná. ?Nas mesas de negociação, o repique da inflação, o aumento da produção industrial e a queda da massa salarial fornecem argumentos poderosíssimos aos sindicalistas?, lembra o economista Wilson Amorim, coordenador técnico do Dieese. ?O ambiente é muito favorável ao fortalecimento e homogeneização de campanhas salariais?, concorda o professor Márcio Pochman, especialista em Trabalho.