A Alemanha registrou no segundo trimestre de 2020 uma queda histórica de 10,1% do Produto Interno Bruto (PIB), consequência das medidas de restrição aplicadas para limitar a propagação do coronavírus, no que representa a maior recessão desde 1945.

“Este é o retrocesso mais grave do indicador desde o início das medições trimestrais do PIB na Alemanha em 1970”, afirma o Destatis (Escritório Federal de Estatísticas) em um comunicado.

O recorde anterior era a queda de 4,7% no primeiro trimestre de 2009, em plena crise financeira mundial.

Principal motor da Europa e dependente das exportações, a economia alemã sofreu um choque provocado pelo confinamento, que paralisou a produção de muitos setores, mas que também reduziu o comércio e derrubou a produção.

“No segundo trimestre de 2020, tanto as exportações quanto as importações de bens e serviços se afundaram massivamente”, indicou o Destatis.

Em abril, em plena restrição sanitária, a produção industrial, crucial para a maior economia da zona do euro, sofreu uma queda histórica de 17,9%.

Os pedidos da indústria caíram 25,8%, e as exportações, 31,1%.

O setor turístico e aéreo também foram muito afetados, e as companhias aéreas TUI e Lufthansa anunciaram planos de demissão em massa, embora tenham sido resgatadas pelo Estado alemão.

Na comparação com o segundo trimestre de 2019, a queda foi de 11,7%.

– “Já está se recuperando”-

Essa queda histórica do PIB representa, porém, apenas “uma olhada pelo retrovisor”, defende Carsten Brzeski, economista do banco ING, que lembra que “a economia alemã já está se recuperando”.

A Alemanha, que sofreu um impacto na crise de saúde menor do que seus vizinhos europeus, iniciou o desconfinamento no início de maio.

Após três meses de crescimento do desemprego, os níveis permaneceram estáveis em julho em relação ao mês anterior, situando-se em 6,4%.

“O pior trimestre pode ser acompanhado pelo melhor”, afirma Brzeski, que espera uma forte aceleração da economia nos próximos meses.

“Há sinais claros de recuperação”, confirmou na quarta-feira o instituto econômico alemão DIW, que destacou que a atividade está sendo favorecida pela demanda interna (consumo, serviços e construção), que se recupera mais rápido do que a indústria.

Em junho, o governo alemão adotou um plano de 130 bilhões de euros (US$ 152 bilhões) para impulsionar o consumo por meio de uma redução do IVA e da concessão de um auxílio suplementar para as famílias de 300 euros (350 dólares) por filho.

Berlim prevê uma recessão de 6,3% para este ano, enquanto a queda terá mais impacto em seus parceiros França, Itália e Espanha, onde o PIB pode se contrair em 10%.

– Surtos da epidemia no verão –

A Alemanha também será beneficiada pelo plano de recuperação europeu, acordado em 21 de julho na cúpula em Bruxelas.

“Estou convencido de que, com a adoção deste plano, (a Alemanha) observará um crescimento sustentável em 2021 e 2022”, garantiu o ministro da Economia, Peter Altmaier, que prevê que seu país cresça 5,2% no ano que vem.

A recuperação da economia alemã dependerá, porém, em grande parte do comércio internacional, muito afetado pela pandemia.

Assim como outros países europeus, a Alemanha também vivenciou um aumento dos surtos de coronavírus durante o verão. Na terça-feira, as autoridades de saúde alemãs expressaram sua “grande preocupação” diante do aumento do número de casos.