Berlim reagiu com veemência nesta segunda-feira às acusações de “práticas nazistas” do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, após a proibição de encontros eleitorais na Alemanha em favor da reforma eleitoral turca.

Na última semana, vários prefeitos alemães anularam eventos eleitorais em que deveriam participar ministros turcos. As autoridades locais justificaram a medida alegando dificuldades logísticas.

Nesta segunda-feira, a polícia anunciou o cancelamento de outro encontro pró-Erdogan em Hamburgo (norte) alegando que a sala prevista para o discurso do ministro turco das Relações Exteriores, Mevlüt Cavusoglu, na terça-feira, tinha “problemas no sistema contra incêndios”.

Embora o governo alemão tenha repetido que essas decisões não são de sua alçada e que se trata de temas de competência municipal, Ancara acusou Berlim de fazer campanha contra o presidente turco.

“Trata-se de uma pressão sistemática (…) e tomaremos as medidas necessárias, não temos medo de ninguém”, afirmou Cavusoglu, segundo a agência Anatólia.

A tensão diplomática entre ambos os países tem aumentado nos últimos meses, depois que a Alemanha criticou em várias ocasiões os ataques contra a liberdade de expressão e os direitos da oposição por parte do governo turco após a tentativa de golpe de Estado em julho.

“Sejamos críticos quando necessário, mas não percamos de vista o significado de nossa associação, de nossa relação estreita. Vamos manter a cabeça fria”, declarou o porta-voz de Merkel, Seffen Seibert.

“Rejeitamos a comparação da política da Alemanha democrática à do nacional-socialismo. De forma geral, as comparações com o nazismo são sempre absurdas e fora de lugar, pois consistem em minimizar os crimes contra a Humanidade do nacional-socialismo”, acrescentou.

Uma fonte do governo turco disse à AFP que o ministro alemão das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, e seu homólogo, Mevlüt Cavusoglu, conversaram por telefone na noite desta segunda-feira, sem dar detalhes sobre o conteúdo da conversa.

– Temores alemães –

O presidente Erdogan também se mostrou disposto a fazer campanha na Alemanha, país que conta com uma numerosa comunidade turca de três milhões de pessoas implantada desde os anos sessenta, quando precisava de mão de obra para a indústria, e que conserva um forte vínculo com seu país de origem.

O governo alemão pediu várias vezes a essa comunidade que não importasse os conflitos que agitam a Turquia, entre partidários e detratores de Erdogan de um lado, turcos e curdos de outro.

Para as forças políticas turcas, esta diáspora é particularmente importante porque representa uma voz que não pode ser negligenciada. Especialmente porque os 1,4 milhão de eleitores turcos que vivem na Alemanha são em sua maioria pró-Erdogan.

“O resultado do referendo é incerto e o governo tenta aproveitar todas as oportunidades para ganhar vantagem política”, observa Sinan Ulgen, presidente do Centro de Economia e Política Externa (Edam) com sede em Istambul.

Segundo ele, a maior parte da classe política, incluindo a oposição, também discorda das recentes proibições de manifestações políticas na Alemanha.

– Escalada das tensões –

Este caso está longe de ser a única fonte de tensão entre Ancara e Berlim. A Alemanha denunciou com veemência a detenção, na semana passada, do correspondente turco-alemão do jornal Die Welt, Deniz Yücel, acusado de “propaganda terrorista”.

Ancara acusa, por sua vez, a Alemanha de abrigar “terroristas”, sejam os partidários do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), classificado como organização “terrorista” por Ancara, ou supostos golpistas.

Berlim registrou nos últimos meses milhares de pedidos de asilo de cidadãos turcos, incluindo dezenas de diplomatas e militares.

A Turquia continua a ser um parceiro estratégico para a Alemanha, principalmente na tarefa de diminuir o fluxo de requerentes de asilo na Europa.