A baixa de juros vem estimulando os investidores a diversificar seus portfólios. Uma das alternativas que surge no horizonte vem de longe. São os Brazilian Depositary Receipts, conhecidos como BDRs, recibos de ações de empresas estrangeiras negociados no mercado brasileiro. Sua participação ainda é tímida: o volume de negócios acumulado até outubro na B3 era de R$ 24,1 milhões. Apesar de modesta, a cifra representa um aumento de 180% em relação ao ano anterior.

“Por se tratar de papéis de empresas estrangeiras, cujos preços nos mercados de origem são denominados em dólares, o comprador também se beneficiou com a alta do câmbio”, diz Rodrigo Franchini, estrategista-chefe da empresa de assessoria de investimentos Monte Bravo. Até a terça-feira 11, a moeda americana acumulava alta de 18,3% no ano. Nesse período,
o retorno superou a média do mercado. O índice BDRx, que tem 88 papéis, subiu 17,9% no ano, ante 13,8% do Índice Bovespa.
Apesar de atrelados ao dólar, os BDRs podem ser comprados em reais, sem a necessidade de remeter dinheiro para fora do País. Sete deles estão disponíveis a todos os investidores brasileiros: a rede internacional de free shops Dufry, a farmacêutica Biotoscana, a empresa de energia e infraestrutura Cosan, Netflix, Facebook, Apple e a farmacêutica Amgen. No entanto, esses BDRs são acessíveis apenas a investidores mais qualificados, com ao menos R$ 1 milhão em capital disponível. Quem não é tão abonado assim pode recorrer aos fundos.

Sucesso de bilheteria:Papéis da Netflix registram alta de 64,6% no pregão da B3 neste ano (Crédito:Divulgação)

A gestora americana Western Asset administra uma das principais carteiras desse tipo, o Western Asset FIA BDR Nível I. A valorização acumulada nos últimos 12 meses é de 18,75%. Nesse período, o patrimônio triplicou, para R$ 412 milhões. Com estratégia voltada para o médio e longo prazos, o portfólio reúne 30 BDRs, seis deles de empresas de tecnologia, como Facebook, que amarga uma queda de 7% neste ano no pregão paulista. “Mantivemos a ação da empresa de Mark Zuckerberg no portfólio, por acreditar que o papel já sofreu bastante e tem capacidade de monetizar mais serviços nos próximos anos”, diz o gestor Maurício Lima. Já os papéis da Netflix subiram 64,6%. Para contrabalançar esses riscos, Lima mantém ações do setor de saúde. Uma das maiores altas foi da fabricante de produtos de limpeza hospitalar Thermo Fisher, que sobe 52,4% desde janeiro. “Gostamos bastante também das farmacêuticas, especialmente as que investem em patentes”, diz Lima. Ele destaca a ação da biofarmacêutica Amgen, que sobe 32,4% no ano, e os papéis da Bristol-Myers, que produz remédios para o tratamento de câncer e registra leve alta de 2,3%. Segundo o gestor, o retorno deve vir no médio prazo. “Outra vantagem dos BDRs é diversificar os setores, pois não temos muitas opções em tecnologia e saúde no Brasil”, diz.

JUROS Ainda que sobrem pontos positivos, os BDRs reproduzem os tropeços do mercado acionário americano — neste ano, os principais índices de Wall Street zeraram os ganhos. Diante do cenário, os gestores da administradora de recursos Alaska, que têm um fundo cujo estatuto permite comprar BDRs, optaram por não comprar esses ativos. Procurada, a gestora preferiu não comentar o assunto.

Para os especialistas, os BDRs deverão continuar atrativos, apesar da perspectiva pelo aumento de juros nos Estados Unidos. O aperto monetário sinalizado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) tende a manter a valorização do dólar em relação ao real. “No ano que vem, o principal benefício de ter esse tipo de ativo será a moeda”, diz Franchini. A projeção para o dólar no fim de 2019 está em R$ 3,80, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central.