Está bem evidente o risco de se apoiar toda a virada econômica brasileira no fio tênue da reforma da Previdência, como até recentemente se pensava fazer. A mudança nesse campo que, finalmente, parece estar bem encaminhada, não irá garantir crescimento. Muito menos propiciar renda e desenvolvimento ao País. Quando muito ajustar parcialmente as contas públicas e trazer fôlego para eventuais investimentos futuros em estrutura. Dado isso, o temor que cresce no mercado é o do atraso das demais medidas vitais e urgentes. Faltam programas para restabelecer a confiança.

Qual a orientação a ser dada, por exemplo, na política externa, no comércio com os demais países. Sem ela, as exportações estão andando de lado. A apatia transforma empresas nacionais e múltis aqui instaladas em máquinas de produção no compasso de espera. Não existe no momento disposição para desengavetar planos de expansão ou mesmo de lançamento de produtos. A angústia que acomete empreendedores e trabalhadores é a mesma. Os dados de queda do poder de compra são assustadores. Além dos sucessivos cortes de vagas na economia formal, os salários foram fortemente achatados, em muitos casos sem correção, comprometeram o consumo e, por tabela, inibiram a oferta.

O Brasil que vem de anos em baixíssimo crescimento — quando não negativo — estagnou de vez. Os números estão aí. Sem qualquer sinalização de rumos — e ela não veio até agora — o quadro só se agrava. Alcançamos o meio do ano, rapidamente e sem maiores resultados. As expectativas para o segundo semestre por enquanto ainda são tímidas. Fala-se em mudanças tributárias favoráveis que demoram a aparecer e em novas flexibilizações trabalhistas a conferir.

A equipe econômica dedica-se fundamentalmente à pauta de corte de gastos. E não poderia ser diferente diante dos desafios fiscais pela frente. À beira do colapso das contas, a única alternativa que restou nesse aspecto é a PEC que abre uma concessão na chamada “regra de ouro”, para liberar despesas além do teto orçamentário previsto. O ministro Paulo Guedes tenta ir além disso e iniciou conversa com os parlamentares para colocar na ordem do dia 30 projetos de lei, já em tramitação, para modernização e digitalização do Estado brasileiro, além de ampliação da modalidade de contratação temporária de funcionários, revisão de auxílios moradia, de transporte e de ajuda de custos a servidores.

Voltado aos problemas internos, o Governo vai deixando o mercado à própria sorte. Ninguém ganha com a crise e as saídas para superá-la seguem nebulosas. Caso não se inicie logo o passo seguinte, além da reforma, não apenas este ano como o mandato inteiro do capitão Jair Bolsonaro poderá ser marcado por mais uma temporada recessiva e desastrosa.

(Nota publicada na Edição 1123 da Revista Dinheiro)