É quase inevitável. Quando a discussão gira em torno dos problemas da Amazônia, a associação imediata é com imagens de desmatamentos e incêndios consumindo a Floresta. Aos dois são atribuídos, em discursos de líderes mundiais e ambientalistas, a grande ameaça à saúde do bioma e do planeta.

Outro problema, porém, se agrava sob o topo das árvores. Cresce a população da região e, com ela, a pobreza. A estimativa do IBGE é de que o número de habitantes da Amazônia Legal já tenha alcançado 29,5 milhões, 14% da população do Brasil. Em 1980, eram 11 milhões (9,3%). Já a proporção de pessoas abaixo da linha de extrema pobreza aumentou 13,8% em 2018, com 45,2 mil pessoas a mais do que o registrado em 2017.

A reboque, surgem déficits que vão desde a falta de água potável, eletricidade e saneamento básico. Se o retrato presente é ruim, o futuro é desalentador pela falta de um programa estrutural de transformação. Nesse cenário, a precariedade da educação de base é um grande desafio para a formação de novas gerações que saibam utilizar a riqueza da floresta em um modelo de desenvolvimento sustentável.

Segundo o relatório Amazônia e Bioeconomia, publicado pelo Instituto de Engenharia, 85,3% das escolas da região não têm esgoto, 25,5% não possuem Internet e 9,4% não têm energia – seja da rede pública ou de qualquer outra fonte. “Sentimos na quantidade e na qualidade da pesquisa científica nacional os efeitos das lacunas deixadas por nossa educação fundamental”, disse Vahan Agopyan, reitor da Universidade de São Paulo (USP).

O uso da ciência é defendido por especialistas como fundamental para criação de planos que preservem o ativo ambiental. Em cálculos de hoje, mais de 40 mil espécies de plantas, 300 espécies de mamíferos e 1,3 mil espécies de aves. Sem um plano de desenvolvimento que inclua educação, o Brasil corre riscos de perder um de seus maiores ativos: a Amazônia.

(Nota publicada na edição 1217 da Revista Dinheiro)