Como seria de costume no País das ironias, a rede elétrica brasileira cresceu em 2018. Era algo esperado por empresários de todo o Brasil, apertados pelo funil da má infraestrutura. Mas a demanda caiu. Até 2014, o consumo brasileiro vinha crescendo à taxa de 4,2% ao ano, em linha com o crescimento da oferta. Com a recessão vivida pelo País em 2015, a taxa média de crescimento do consumo reduziu-se para 2,5% anuais, gerando um excedente de oferta. Há mais de um ano, hidrelétricas e termelétricas produzem mais energia do que a utilizada pelos consumidores.

Isso faz sentido quando se pensa que a crise fez as empresas colocarem o pé no freio da produção e nos investimentos devido ao cenário ruim para os negócios. Como a economia continua a passos lentos, com crescimento em 2018 de 1,1% e previsão do Banco Central (BC) para 2019 de 0,8%, companhias de vários setores, continuaram a produzir aquém do desejável. “Estima-se que o excedente de oferta se mantenha superior em 10% ao consumo esperado nos próximos anos”, diz Carlos Schoeps, CEO da consultoria em energia Replace.

Por um lado, isso é bom. “Esse resultado mostra que, mesmo se houver recuperação da economia, há oferta de energia suficiente”, conclui Schoeps. Por outro, demonstra que 2018 não foi um ano fácil para as fornecedores de energia elétrica, já que sem consumidores, cai o faturamento.

Neste contexto, os resultados da Engie Brasil Energia, subsidiária da multinacional francesa, são mais do que impressionantes. Com sede em Florianópolis (SC), a empresa teve lucro líquido de R$ 2,3 bilhões em 2018, aumento de 15,5% em relação à 2017. O Ebitida foi de R$ 4,4 bilhões , 24,1% a mais do que no ano anterior. Por essa e outras razões, a Engie recebeu o prêmio de melhor empresa do setor de Energia Elétrica do anuário AS MELHORES DA DINHEIRO 2019.

Eduardo Sattamini / Empresa: Engie Brasil Energia / Cargo: diretor-presidente / Principal realização da gestão: aumentar o faturamento e investimentos em fontes renováveis (Crédito:Divulgação)

A companhia credita o sucesso à capacidade de vendas mesmo em um mercado adverso. “O preço médio dos contratos de venda de energia, líquido das exportações, dos tributos sobre a receita e das operações de trading, foi de R$ 180,60/MWh em 2018, valor 0,1% superior ao registrado em 2017”, explicou a empresa em sua publicação de resultados para investidores. A Engie está presente no Brasil desde 1998, quando, ainda com o nome de Tractebel Sul, comprou as operações da Gerasul — braço no Sul do País da Eletrobras. A empresa é a maior produtora privada de energia elétrica do Brasil, com capacidade instalada própria de 10.211 MW em 11 usinas hidrelétricas, uma termelétrica e 12 sustentáveis, incluindo eólicas e de processamento de biomassa. Ao todo, isso representa cerca de 6% da capacidade do País.

O tamanho demonstra como a crise não impediu a empresa a continuar seus planos de crescimento. “Investimentos podem ser feitos durante a crise, especialmente quando se pensa na antecipação da retomada da economia. E se a empresa tem acesso ao capital estrangeiro, isso se torna mais fácil”, afirma Juliana Inhasz, do Insper.

Como pode se perceber pelo seu portfólio de usinas, a Engie tem o plano ambicioso de continuar a ter como foco a geração de energia a partir de fontes renováveis. Hoje, quase 90% da energia produzida pela companhia no Brasil vêm de matrizes sustentáveis. A empresa prevê o investimento de cerca de R$ 1,6 bilhão nos próximos dois anos em geradoras do tipo. Já está em construção o Conjunto Eólico Campo Largo 2, na Bahia, que fará a capacidade instalada de energia eólica ultrapassar a marca de 1 GW no Brasil, contribuindo para a meta global da Engie de alcançar 9GW de energias renováveis até 2021.

A empresa também segue um plano de descarbonização, que inclui aportes maciços nos próximos anos em geradoras de energia que não dependam de insumos como carvão e petróleo, o que possibilitaria a venda das termelétricas. A Engie já encerrou as atividades da Usina Termelétrica Charqueadas no Rio Grande do Sul e colocou à venda o Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, em Santa Catarina, que está com negociações avançadas. Em 2019, ela deu um passo importante em seus planos, com finalização da compra da Transportadora Associada de Gás (TAG), anteriormente pertencente à Petrobras. Maior transportadora de gás do Brasil, a TAG foi adquirida pela Engie, que detém 29,5% da enmpresa, e pelo fundo canadense CDPQ por R$ 33,5 bilhões.

O plano da companhia é entrar no mercado utilizando uma estrutura já funcional e abocanhar parte do mercado de gás, o mais promissor como alternativa ao fornecimento de energia. A TAG conta com 4.500 km de gasodutos, 12 instalações de compressão de gás e 91 pontos de entrega, alguns diretamente para o consumidor final.

“É sempre gratificante receber um prêmio como esse, pois é uma avaliação mais ampla sobre a sustentabilidade da Engie Brasil Energia”, afirma Eduardo Sattamini, diretor-presidente da Emgie Brasil Energia sobre a premiação da MELHORES DA DINHEIRO 2019. “É muito importante, pois fomos avaliados em diferentes quesitos. Isso indica que estamos no caminho certo.”