Se considerado o padrão recente, um novo movimento de euforia no mercado financeiro nacional está previsto para a primeira segunda-feira de agosto. Os investidores devem reagir positivamente à oficialização da candidatura do tucano Geraldo Alckmin à presidência, após a convenção do partido no sábado 4. O evento confirmará a aliança do PSDB com as siglas do chamado Centrão, um apoio que injeta vitalidade à campanha mais alinhada aos anseios do mercado. Com o bloco, o ex-governador amplia o seu tempo de exposição durante a propaganda eleitoral e torna possível a hipótese de deslanchar do patamar de um dígito no qual se encontra nas pesquisas. Como contundente defensor das reformas e do ajuste fiscal, Alckmin é o preferido das finanças. “Não me escolheram porque estou em primeiro”, afirmou o tucano, na sexta-feira 26. “Estão vindo por convicção de que temos de estar juntos num grande esforço conciliatório.”

A predileção se reflete nos indicadores. Na sexta-feira 20, o Ibovespa apurou uma alta de 1,4%. O impulso se deu principalmente por conta das altas das estatais, com elevações de mais de 5% em papéis como os de Eletrobras e Banco do Brasil. A variação destacada dessas companhias nos pregões é um sinal de que a motivação é mais política do que econômica. Os operadores digeriam às indicações do dia anterior de que o acordo Alckmin-Centrão havia sido selado. A parceria foi anunciada na sexta-feira 26. A definição de legendas do grupo é imprecisa. Dependendo da ocasião, pode incluir mais ou menos partidos. Trata-se de um conjunto de siglas menores, com ideologia flexível e que costuma votar com o governo em troca de cargos no Executivo.

Josué Gomes da Silva: indicado pelo Centrão para a chapa do tucano, empresário rejeitou o convite (Crédito:Leticia Moreira/Folhapress)

Se durante o mandato o apoio do Centrão representa força para aprovar projetos no Congresso – o número de cadeiras oscila entre 250 e 300 parlamentares – no período eleitoral, significa mais tempo de exposição no rádio e na TV. Nos acordos costurados pelo tucano, a perspectiva é de incluir ao menos oito partidos, como o PRB, do ex-ministro da Indústria e Comércio, Marcos Pereira, além do DEM, do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que desistiu de sua candidatura. Nos cálculos da Arko Advice, Alckmin pode chegar a ter quase o triplo de tempo de TV em relação ao candidato com a segunda maior exposição (veja as simulações ao final da reportagem).

“Do lado do Alckmin, foi um fôlego”, diz Lucas de Aragão, diretor da consultoria. “Era isso ou a candidatura dele estava em risco, mas não é de maneira alguma uma garantia de que ele estará no segundo turno.” Com 7% das intenções de votos, segundo o Datafolha, Alckmin vinha enfrentando a desconfiança de aliados quanto a viabilidade de seu nome. O deputado Jair Bolsonaro (PSL) lidera a corrida hoje, com 19% das intenções de voto. O parlamentar, porém, derrapou na fase das alianças e teve até convites rejeitados para o cargo de vice. Antes de fechar com Alckmin, o Centrão chegou a afagar Bolsonaro e ficou próximo de se aliar a Ciro Gomes (PDT), uma prova da incoerência programática do bloco.

Com a aliança, o tucano dá um passo a mais para se viabilizar como a opção de centro numa eleição polarizada. Entre as suas propostas que agradam o mercado, estão a intenção de zerar o déficit fiscal em dois anos com medidas como a aprovação da reforma da Previdência. “Os primeiros seis meses serão essenciais para fazer as reformas estruturais”, disse o tucano a empresários na Câmara Americana de Comércio (Amcham), na terça-feira 24. “A primeira é a que a gente mais sabe fazer, o ajuste fiscal.” Falta definir o outro nome na chapa. Filiado ao PR, o empresário Josué Gomes da Silva, filho de José Alencar, que foi vice de Lula, renunciou à indicação feita pelo Centrão para o cargo de vice-presidente na coalizão.