O CENÁRIO ECONÔMICO MUDOU, A bolsa já não é mais a mesma, os juros subiram, o crédito está mais apertado e o setor de construção civil não parece tão promissor quanto antes. Se agora as coisas estão tão diferentes de alguns meses atrás, mas sua carteira de investimentos continua a mesma, talvez seja a hora de repensar a alocação de seus ativos. Com o mês de dezembro se aproximando, também chega o décimo terceiro, o bônus de fim de ano e a distribuição de dividendos. Em outras épocas, investidores mais arrojados aplicariam boa parte desse dinheiro na bolsa ou em fundos de investimento. No entanto, com a turbulência externa e seus primeiros efeitos no Brasil, cautela é a palavra da vez. Aumentar a carteira de ações, comprar títulos do Tesouro, saldar todas as dívidas, contratar um financiamento imobiliário ou vender imóveis antes que os preços caiam mais são algumas das idéias que têm passado pela cabeça dos brasileiros recentemente. DINHEIRO ouviu especialistas que podem ajudar a sanar as principais inquietações do investidor que deseja revisar sua carteira.

ATIVOS FINANCEIROS
O principal questionamento de quem investe em ações hoje é, sem dúvida: “Devo comprar mais?”. A resposta, no entanto, tem muitas nuances. A Gerdau, umas das principais siderúrgicas do mundo, cujo preço do papel ON chegou a R$ 33 em maio, hoje não passa de R$ 10. A Vale, que alcançou picos de R$ 57,50 para o papel VALE5, encolheu para R$ 23 na terça-feira 28, dia em que a bolsa subiu 13%. Mesmo com a divulgação de seus resultados trimestrais, a ação PNA da mineradora praticamente não subiu na última semana. Mas isso não é garantia de que tais empresas voltem, pelo menos no médio prazo, ao patamar que alcançaram no primeiro semestre de 2008. “Quem tem liquidez, deve preservá-la para o ano que vem”, recomenda Fábio Gallo, professor de finanças da FGV e da PUC-SP. Gallo defende a compra de ações no atual momento somente para os investidores que vislumbrarem o horizonte de longo prazo. “Tem que haver uma estratégia por trás dessa compra e esse dinheiro não deve ser essencial para a vida do investidor nos próximos anos”, diz Gallo.

Quem aproveita o capital extra recebido no final do ano para reinvestir em seu portfólio, comprar CDBs e títulos do Tesouro faz, de acordo com o especialista, uma das melhores opções. “Está na hora de rebalancear a favor da renda fixa e os títulos são ótimos para isso”, afirma. Gallo não deixa de ter razão. É possível investir neles com apenas R$ 200, e os títulos são tão atrativos que os grandes bancos brasileiros optaram por comprar milhões deles e garantir sua rentabilidade, em vez de usar o mesmo dinheiro para incrementar suas carteiras de crédito. Liao Yu Chieh, professor de finanças do Ibmec São Paulo, corrobora a indicação de Gallo. “Títulos do Tesouro rendem mais do que a poupança e não têm risco. É muito mais rentável que um fundo DI que cobra de 3% a 4% de taxa de administração”, afirma Chieh. Já sobre o reinvestimento em pechinchas da bolsa, as opiniões de ambos são discordantes. Chieh acredita ser o momento ideal para aumentar a carteira de ações e aguardar a recuperação do mercado. “Mas tudo depende do perfil de risco do investidor. Quem está sofrendo mais do que deveria ou perdendo o sono com a queda da bolsa, não deve se reposicionar”, indica.

PASSIVOS
Muitos aproveitaram a queda de juros e a avalanche de crédito em 2007 para comprar o primeiro ou segundo imóvel ou até mesmo um carro novo. As parcelas estão rolando e a incerteza econômica é grande. O que fazer? Quem dispõe de alguma liquidez deve aproveitar o momento para quitar parte ou a totalidade de suas dívidas? A unanimidade entre especialistas é que sim. Apesar de o momento exigir liquidez para qualquer emergência, não é indicado pagar juros de parcelas quando se tem dinheiro em caixa para amortizálas. É o que constata o professor de matemática financeira José Dutra Vieira Sobrinho. “A poupança rende 0,7% ao mês, enquanto um financiamento imobiliário está aproximadamente em 0,9%. Não compensa deixar dinheiro na poupança e, ao mesmo tempo, pagar juros de financiamento. É melhor quitar”, afirma.

Entretanto, Dutra acredita que se os planos de tomar um empréstimo agora, para a compra de um imóvel ou veículo, já haviam sido feitos, não devem ser abortados. “Se a pessoa estava se planejando, tem um emprego estável e condições de pagar as parcelas, deve adquirir o financiamento”, diz. Segundo Chieh, do Ibmec SP, os juros não estão muito mais altos do que em 2007, e, se o investidor está em uma posição favorável no trabalho e com capital para dar de entrada, financiar pode não ser um mau negócio. “No caso de imóveis, como os preços estão em tendência de queda, é possível negociar condições melhores e prazos melhores de pagamento”, afirma.

 

NÃO COMPENSA DEIXAR DINHEIRO NA POUPANÇA E, AO MESMO TEMPO, PAGAR JUROS DE FINANCIAMENTO. É MELHOR QUITAR
JOSÉ DUTRA VIEIRA SOBRINHO

ATIVOS IMOBILIÁRIOS
A demanda imobiliária caiu, os preços seguiram o mesmo caminho e a bonança que pairava sob o céu das construtoras parece ter se dissipado por um período. Se você esperava uma alta maior para vender seu imóvel e acabou perdendo o timing, apesar da tendência de queda, esse ainda pode ser um bom momento para vender. “Desde que o investidor precise do dinheiro no curto prazo”, recomenda Chieh. Se está fora de cogitação esperar alguns anos até a retomada do mercado, vender já é a dica. “A demanda caiu e a venda pode demorar um pouco para se concretizar, mas se é preciso vender, que seja agora”, aconselha Chieh. Já para aqueles que desejam comprar imóveis para investir, os especialistas aconselham esperar um pouco mais, já que a tendência é de queda ainda maior em 2010. “Todos tendem a segurar mais o dinheiro do que comprar algum ativo, e isso pode fazer os preços caírem ainda mais no ano que vem”, conclui o professor.