A Airbus fez um gesto de boa vontade nesta sexta-feira (24) no conflito que opõe a Boeing à Organização Mundial do Comércio (OMC), algo que, segundo a União Europeia (UE), deve levar ao fim “imediato” das tarifas sobre os produtos europeus nos Estados Unidos.

“As injustificadas tarifas alfandegárias sobre produtos europeus não são aceitáveis”, disse o comissário europeu de Comércio, Phil Hogan.

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“Se essa disputa não for resolvida, a UE se reserva o uso de seu direito de sanção”, garantiu.

“Se os Estados Unidos continuarem se recusando a negociar amigavelmente, a União Europeia não terá escolha a não ser adotar sanções contra produtos americanos. Estamos determinados a fazer valer nossos direitos”, disse o ministro da Economia da França, Bruno Le Maire.

A fabricante europeia de aeronaves e sua concorrente nos EUA, e por extensão Bruxelas e Washington, enfrentam-se na OMC desde outubro de 2004.

O motivo são os subsídios públicos recebidos pelas duas empresas, considerados ilegais por ambas as partes. É o conflito comercial mais longo e mais complicado tratado pela OMC.

“Após 16 anos de disputa, esta é a última etapa antes de encerrar essa controvérsia e remover as justificativas para os impostos alfandegários dos EUA”, afirmou a Airbus em um comunicado nesta sexta-feira.

Especificamente, a Airbus negociou com os governos espanhol e francês a revisão crescente dos juros que devem ser pagos pelos valores que lhe foram adiantados para o lançamento do avião de longa distância A350 e que a empresa deve reembolsar.

Esse sistema de adiantamentos reembolsáveis permite limitar os riscos financeiros quando grandes projetos são lançados.

– Encontrar uma solução –

A partir de agora, as taxas de juros “correspondem ao que a OMC considera taxas de juros e critérios de avaliação de risco”, estima a Airbus.

“Aceitamos todas as exigências da OMC. Essas modificações adicionais (aos avanços reembolsáveis) do A350 mostram que a Airbus não negligenciou nenhum detalhe para encontrar uma solução”, disse o CEO da Airbus, Guillaume Faury, citado na declaração.

“É um claro sinal de apoio àqueles que sofrem com o violento impacto das tarifas impostas pelo USTR (representante comercial dos EUA), especialmente em um momento em que a indústria é duramente atingida pela crise da COVID-19”, acrescentou.

A fabricante “não queria mais esperar” e queria mostrar sua firme vontade de atender às exigências da OMC, disseram fontes próximas à companhia. Eles não tinham obrigação legal de fazer isso, acrescentaram essas fontes, confiando em que “os Estados Unidos, por sua vez, farão um gesto verdadeiro”.

Nesse longo conflito, tanto a Airbus quanto a Boeing já afirmaram em várias ocasiões que estão seguindo as regras da OMC.

Em outubro, os Estados Unidos receberam a autorização da OMC de tributar por um ano a importação de bens e serviços europeus de até 7,5 bilhões de dólares, devido aos subsídios de Bruxelas à Airbus. Imediatamente, Washington anunciou tarifas suplementares sobre produtos europeus.

É a sanção mais dura imposta pela OMC. Desde então, os Estados Unidos aplicaram tarifas de 25% em produtos como vinho, queijo e azeitonas da Europa.

Em março, as tarifas alfandegárias de 10% nas aeronaves da Airbus aumentaram para 15% e também afetam as companhias aéreas dos EUA que decidiram se equipar com o fabricante europeu, informou a empresa.

A UE espera que a OMC também a autorize a impor tarifas sobre os subsídios que Washington concede à Boeing, algo que não deve acontecer antes de setembro, ou outubro.