Dizem que no Brasil o ano começa somente depois do carnaval, porém, vi muitas empresas e pessoas trabalhando muito antes e durante esta famosa festa tradicional no nosso querido país. E mais do que isso, agindo para minimizar os seus impactos ambientais.

Na entrevista, na qual tive a oportunidade de participar, para a matéria da repórter Aryel Fernandes, aqui na Dinheiro, marcas como a Skol, Modelez, Pepsico, entre outras, além de cidades famosas que receberam milhares de foliões para o evento, fizeram ações para uma melhor gestão dos resíduos deixados ao longo da festa.

Muito blocos de carnaval em São Paulo tiveram a preocupação com o resíduo que gerariam, grupos de pessoas nos blocos seguiram e recolheram as latinhas, copos e vidros deixados para trás. A prefeitura, por meio da Amlurb, colocou mais de 2.700 funcionários para a operação de limpeza e fez um post com todos os resultados desta mega ação em sua página das redes sociais.

No Rio de Janeiro, na sexta e sábado de carnaval, com quase um milhão de foliões, foram 61,4 toneladas de resíduos dos blocos e do desfile das Escolas do Grupo de Acesso A, no Sambódromo, segundo a Comlurb. E, como já é tradicional, os artistas do Lixo Zero que passam sambando após as escolas na avenida, como o famoso gari-passista Renato Sorriso, foram a sensação do movimento.

Em Florianópolis, mais de 70 funcionários da Comcap, empresa de coleta local, trabalharam até às 6h da manhã de domingo para limpar o centro da cidade. Teve até o mascote “bernunça” que chamou a atenção para as metas já estipuladas para o Projeto Floripa Lixo Zero 2030.

Vários sites e influenciadores da temática, como a plataforma Menos Um Lixo deram dicas de como ter um carnaval mais sustentável com menos copos de plásticos, sem glitter de microplástico, reuso de fantasias, econudos, confete feito com furador de papel e folhas secas, além das temáticas ligadas à diversidade e às questões sociais, que também fazem parte deste movimento do desenvolvimento sustentável.

Mas será que essas notícias e informações só apareceram nas minhas redes sociais, ou seja, na “bolha” de que faço parte?

O Lixo Zero não é só no carnaval, mas foi muito utilizado neste ano. Segundo o conceito estabelecido pela ZWIA (Zero Waste International Alliance), Lixo Zero é “uma meta ética, econômica, eficiente e visionária para guiar as pessoas a mudar seus modos de vida e práticas, de forma a incentivar os ciclos naturais sustentáveis, nos quais todos os materiais são projetados para permitir sua recuperação e uso pós-consumo”.

E deste conceito tem outro que vem muitas vezes sendo fundido com as questões mais amplas da sustentabilidade: a economia circular. Segundo a Fundação Ellen Macarthur, economia circular é “uma alternativa atraente que busca redefinir a noção de crescimento, com foco em benefícios para toda a sociedade. Isto envolve dissociar a atividade econômica do consumo de recursos finitos e eliminar resíduos do sistema por princípio. Apoiada por uma transição para fontes de energia renovável, o modelo circular constrói capital econômico, natural e social”. Entre os princípios, estão a eliminação dos resíduos e da poluição desde o início, ou seja, no desenvolvimento do produto de consumo. Ter sempre os produtos e materiais em uso e regenerar os sistemas naturais.

Seja por buscar um propósito alicerçado nestes novos conceitos, ou por não aguentar mais ver tanta sujeira no chão, ou ainda, por buscar lucratividade nestes novos modelos de negócios ligados aos resíduos, muitas empresas e governos, como vimos neste carnaval, estão dando um foco para a temática. Ainda não como deveriam, com mais profundidade, principalmente, na hora de prestar contas das atividades realizadas e dos indicadores de sucesso. Mais do que isso, no esforço de transformação de consciência das pessoas. Mas já é um bom começo! Tomara que não seja somente uma “jogada” de marketing como disseram alguns alunos meus.

E que este carnaval com lixo zero das empresas e governos continue no restante do ano até o próximo carnaval. Sempre melhorado, óbvio.

 

* Marcus Nakagawa é professor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS) e palestrante. É autor dos livros “Marketing para Ambientes Disruptivos” e “101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo” (Prêmio Jabuti 2019).

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