Os oceanos ainda podem ser salvos, garantiu o ambientalista e oceanógrafo Philippe Cousteau, que explicou que existem os meios para fazê-lo e que só falta vontade política.

O neto do célebre explorador francês Jacques-Yves Cousteu disse, em entrevista à AFP, às vésperas do Dia Mundial dos Oceanos, que se celebra em 8 de junho, que nos últimos 40 anos a biodiversidade do planeta diminuiu à metade.

PERGUNTA: Qual é o estado dos oceanos comparativamente ao que experimentou seu avô, Jacques-Yves Cousteau?

RESPOSTA: Você pode ver as imagens do filme ‘O Mundo do Silêncio’, que ele fez na década de 1950 no sul da França, e ver arrecifes e peixes em abundância. Mergulhei nestes mesmos lugares e constatei o declínio da saúde do Mediterrâneo. Quero dizer, grande parte do Mediterrâneo hoje está essencialmente morta. É impactante.

A enorme explosão industrial e o crescimento populacional em todo o mundo depois da Segunda Guerra Mundial realmente tiveram um enorme impacto nestes ecossistemas.

O Caribe tem diminuído, as Flórida Keys são uma zona morta. Acabo de completar 40 anos e a biodiversidade deste planeta diminuiu em 50%,a metade da biodiversidade que havia quando nasci desapareceu.

PERGUNTA: Por que é importante proteger os oceanos?

RESPOSTA: Algumas pessoas podem não se importar que um animal ou um peixe viva em algum lugar, mas as pessoas não têm consciência suficiente de que vivemos em um sistema interconectado. E os oceanos são pouco apreciados porque são menos visíveis do que a superfície. É como o velho ditado: longe dos olhos, longe do coração.

As pessoas falam das florestas tropicais da Amazônia. E são magníficas e devem ser protegidas com todo o esforço possível, mas a maioria do oxigênio disponível na Terra não provém das florestas tropicais, mas dos oceanos, do plâncton do oceano.

As florestas tropicais são ecossistemas diversos… Mas mais diverso do que uma floresta tropical é um arrecife de coral e mais da metade dos arrecifes do mundo desapareceram. Representam 1% da superfície oceânica, mas abrigam recursos que alimentam 1 bilhão de pessoas e empregam dezenas de milhões, ou inclusive centenas de milhões de pessoas.

PERGUNTA: É tarde demais para mudar as coisas? O que se pode fazer?

RESPOSTA: A boa notícia é que temos ferramentas à nossa disposição e sabemos que funcionam. Uma das principais iniciativas que obteve o consenso em todo o mundo é a importância de se criar santuários.

Atualmente, apenas cerca de 5% da superfície do oceano é protegida. Existe um movimento crescente, promovido em particular pelo Dia Mundial dos Oceanos, para aumentar esta proporção para 30% em 2030.

Sabemos que isto custaria cerca de 225 bilhões de dólares. Alguns dizem que é absurdo e que não podemos nos permitir fazê-lo, mas esse dinheiro é apenas uma fração do que se investiu na economia mundial para combater o coronavírus. Então, o dinheiro está aí, é só uma questão de vontade.

Estima-se entre 500 bilhões e 900 bilhões de dólares o retorno esperado deste investimento porque a proteção de 30% dos oceanos resultaria em um aumento de 600% da biomassa dos recursos alimentares retirados do mar. Isto significa mais trabalho, mais oportunidade para as pessoas alimentarem suas famílias…. Então, proteger os oceanos é bom para todos!

Outra boa notícia é que o que tende a ser bom para os oceanos é melhor para nós, vivamos ou não no litoral… As escolhas que fazemos das coisas que compramos, que comemos, a forma como usamos a energia, dirigindo carros elétricos ou usando o transporte público podem ser melhores para nossa saúde e também para a dos oceanos. É algo muito poderoso que é importante lembrar.