03/08/2018 - 11:00
Impossível evitar o trocadilho. Ninguém em Wall Street curtiu a divulgação dos resultados do segundo trimestre do Facebook no dia 25 de julho. Horas depois de anunciar os números, que confirmaram as projeções dos analistas, Mark Zuckerberg e seus executivos realizaram uma teleconferência. Nela, afirmaram que, nos próximos trimestres, os pesados investimentos em segurança de dados vão reduzir o crescimento das receitas para patamares de um dígito. Com isso, eles provocaram a maior queda no valor de mercado de uma empresa na história da Bolsa americana: em um dia, os acionistas ficaram US$ 119 bilhões mais pobres, reduzindo a capitalização da companhia para abaixo de US$ 500 bilhões (observe o quadro ao final da reportagem). O próprio Zuckerberg recuou da posição de 6º para 19º homem mais rico dos Estados Unidos.
Olhando os números, a reação foi exagerada. O Facebook faturou US$ 13,23 bilhões no trimestre, alta de 42% ante o mesmo período de 2017. O lucro foi de US$ 5,1 bilhões, alta de 34%. Zuckerberg anunciou que 2,5 bilhões de pessoas usavam pelo menos um dos produtos da empresa todos os meses (além da rede social e do aplicativo WhatsApp, o grupo possui companhias de pagamentos e de proteção de dados). No entanto, o mercado não gostou de saber que, nos próximos trimestres, os lucros vão crescer menos.
Ao reconhecer que os tempos do crescimento exponencial estavam chegando ao fim, Zuckerberg ameaçou uma das maiores crenças de Wall Street. A de que, trimestre após trimestre, ano após ano, os gigantes da tecnologia vão atrair mais e mais usuários e suas receitas vão crescer aceleradamente. O grupo formado por Facebook, Amazon, Netflix, Google e o recém-chegado Spotify, que abriu seu capital em abril deste ano, era considerado à prova de crises e ciclos econômicos. Os analistas até criaram uma sigla juntando as iniciais dessas cinco companhias: fangs, que em inglês significa as presas de um predador, indicando a voracidade com que elas abocanham fatias de mercado. Agora, a pergunta de centenas de bilhões de dólares é se a débâcle das ações restringe-se ao Facebook ou se vai quebrar as presas desses predadores.
Segundo Savita Subramanian, estrategista de ações do Bank of America Merrill Lynch, ainda é muito cedo para prever o fim desses gigantes. “O mercado olha para o futuro”, disse ele. “Sempre haverá esses desastres.” Subramanian recordou que, em meados de março, as ações do Facebook chegaram a cair 17% em um dia quando foi revelado o escândalo da Cambridge Analytical e do uso de dados na campanha que elegeu Donald Trump, mas as cotações voltaram ao patamar anterior em poucas semanas.
As demais empresas passaram incólumes pela crise do Facebook. No dia seguinte, a Amazon anunciou um lucro recorde de US$ 2,5 bilhões no segundo trimestre. Não apenas foi o melhor resultado trimestral da história da companhia, como representou um crescimento de 1.286% em relação ao mesmo período de 2017. O faturamento cresceu 39%, para US$ 52,9 bilhões, graças aos bons resultados de divisões não relacionadas com as atividades de varejo, como publicidade e prestação de serviços de computação em nuvem. Com isso, as ações já subiram cerca de 50% no ano até a quarta-feira, dia 1º e o valor de mercado da companhia aproxima-se de US$ 900 bilhões.
O desempenho de outras ações do setor também vem brilhando. No ano, Alphabet, a empresa controladora do Google, viu suas cotações subirem 13%. Mesmo pagando uma multa de quase US$ 5,1 bilhões a autoridades europeias, a empresa conseguiu lucrar US$ 3,2 bilhões, queda de 8,6% ante o mesmo período de 2017. O faturamento, porém, cresceu 25,6% para US$ 32,7 bilhões. Não por acaso, Jim Cramer, um dos mais conhecidos analistas de ações dos Estados Unidos, coloca o Alphabet como sua principal aposta dentre os gigantes da tecnologia, ao lado da Netflix. Mesmo que sua receita de US$ 3,9 bilhões e seu lucro de US$ 384 milhões no segundo trimestre pareçam modestos diante dos números das demais, seus resultados vêm crescendo sistematicamente entre 30% e 40% ao longo dos últimos seis trimestres, o que justifica a alta de 68,3% nas ações neste ano. “São ações para não deixar de comprar”, diz Cramer.