Impossível evitar o trocadilho. Ninguém em Wall Street curtiu a divulgação dos resultados do segundo trimestre do Facebook no dia 25 de julho. Horas depois de anunciar os números, que confirmaram as projeções dos analistas, Mark Zuckerberg e seus executivos realizaram uma teleconferência. Nela, afirmaram que, nos próximos trimestres, os pesados investimentos em segurança de dados vão reduzir o crescimento das receitas para patamares de um dígito. Com isso, eles provocaram a maior queda no valor de mercado de uma empresa na história da Bolsa americana: em um dia, os acionistas ficaram US$ 119 bilhões mais pobres, reduzindo a capitalização da companhia para abaixo de US$ 500 bilhões (observe o quadro ao final da reportagem). O próprio Zuckerberg recuou da posição de 6º para 19º homem mais rico dos Estados Unidos.

Olhando os números, a reação foi exagerada. O Facebook faturou US$ 13,23 bilhões no trimestre, alta de 42% ante o mesmo período de 2017. O lucro foi de US$ 5,1 bilhões, alta de 34%. Zuckerberg anunciou que 2,5 bilhões de pessoas usavam pelo menos um dos produtos da empresa todos os meses (além da rede social e do aplicativo WhatsApp, o grupo possui companhias de pagamentos e de proteção de dados). No entanto, o mercado não gostou de saber que, nos próximos trimestres, os lucros vão crescer menos.

Depósito da Amazon: publicidade e computação em nuvem fizeram o lucro crescer 1.286% (Crédito:Ken James)

Ao reconhecer que os tempos do crescimento exponencial estavam chegando ao fim, Zuckerberg ameaçou uma das maiores crenças de Wall Street. A de que, trimestre após trimestre, ano após ano, os gigantes da tecnologia vão atrair mais e mais usuários e suas receitas vão crescer aceleradamente. O grupo formado por Facebook, Amazon, Netflix, Google e o recém-chegado Spotify, que abriu seu capital em abril deste ano, era considerado à prova de crises e ciclos econômicos. Os analistas até criaram uma sigla juntando as iniciais dessas cinco companhias: fangs, que em inglês significa as presas de um predador, indicando a voracidade com que elas abocanham fatias de mercado. Agora, a pergunta de centenas de bilhões de dólares é se a débâcle das ações restringe-se ao Facebook ou se vai quebrar as presas desses predadores.

Segundo Savita Subramanian, estrategista de ações do Bank of America Merrill Lynch, ainda é muito cedo para prever o fim desses gigantes. “O mercado olha para o futuro”, disse ele. “Sempre haverá esses desastres.” Subramanian recordou que, em meados de março, as ações do Facebook chegaram a cair 17% em um dia quando foi revelado o escândalo da Cambridge Analytical e do uso de dados na campanha que elegeu Donald Trump, mas as cotações voltaram ao patamar anterior em poucas semanas.

Sede do Google: empresa pagou US$ 5,1 bilhões de multa a autoridades europeias e ainda teve ganho de US$ 3,1 bilhões (Crédito:Maislam)

As demais empresas passaram incólumes pela crise do Facebook. No dia seguinte, a Amazon anunciou um lucro recorde de US$ 2,5 bilhões no segundo trimestre. Não apenas foi o melhor resultado trimestral da história da companhia, como representou um crescimento de 1.286% em relação ao mesmo período de 2017. O faturamento cresceu 39%, para US$ 52,9 bilhões, graças aos bons resultados de divisões não relacionadas com as atividades de varejo, como publicidade e prestação de serviços de computação em nuvem. Com isso, as ações já subiram cerca de 50% no ano até a quarta-feira, dia 1º e o valor de mercado da companhia aproxima-se de US$ 900 bilhões.

O desempenho de outras ações do setor também vem brilhando. No ano, Alphabet, a empresa controladora do Google, viu suas cotações subirem 13%. Mesmo pagando uma multa de quase US$ 5,1 bilhões a autoridades europeias, a empresa conseguiu lucrar US$ 3,2 bilhões, queda de 8,6% ante o mesmo período de 2017. O faturamento, porém, cresceu 25,6% para US$ 32,7 bilhões. Não por acaso, Jim Cramer, um dos mais conhecidos analistas de ações dos Estados Unidos, coloca o Alphabet como sua principal aposta dentre os gigantes da tecnologia, ao lado da Netflix. Mesmo que sua receita de US$ 3,9 bilhões e seu lucro de US$ 384 milhões no segundo trimestre pareçam modestos diante dos números das demais, seus resultados vêm crescendo sistematicamente entre 30% e 40% ao longo dos últimos seis trimestres, o que justifica a alta de 68,3% nas ações neste ano. “São ações para não deixar de comprar”, diz Cramer.