Um pedido de socorro marcou o início de 2022 para produtores da Região Sul, e reforçou, do pior jeito, a máxima de que a agropecuária é uma indústria a céu aberto. A estiagem apertou nos últimos meses do ano passado, gerando perdas significativas nas lavouras e levando os secretários de Agricultura de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e até de Mato Grosso do Sul a buscarem apoio do governo federal, numa tentativa de amenizar o prejuízo até que venha a retomada. Como o agronegócio é feito de ciclos, a recuperação desses campos é certa, mas pela mesma razão também sabe-se que para isso acontecer é preciso respeitar a duração de cada safra.

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A conversa dos representantes estaduais com os do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) no início desta semana trouxe um alento. Marcos Montes e Guilherme Bastos, respectivamente secretário-executivo e secretário de Política Agrícola do Mapa, confirmaram a avaliação de uma possível intermediação junto aos bancos para que os produtores prejudicados tenham mais tempo para pagar suas dívidas. E também de um apoio de crédito adicional para os municípios onde foi oficializado estado de emergência.

Para se ter ideia das perdas, o Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná anunciou que a colheita de grãos no estado, agora na safra de verão, deve render 22,5 milhões de toneladas. O volume é 3% menor do que o registrado na temporada anterior, diferença que fica mais expressiva quando se leva em consideração que há apenas dois meses a previsão era de um aumento de 10%. Em Santa Catarina, o quadro é até mais grave por causa do déficit hídrico que chegou a 80% em dezembro passado, segundo a Secretaria de Agricultura do estado. A seca reduziu pela metade a produção de milho em algumas áreas, mesmo com investimentos feitos durante todo o ano em sistemas de captação e armazenagem de água.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já trabalha para dimensionar de maneira mais precisa o impacto dessa falta de chuvas, o que ajudará o governo federal na definição de como prestar o socorro necessário às regiões afetadas. E este pode ser um desafio maior para 2022: avaliar com mais rigor os riscos dos efeitos climáticos para as lavouras e as formas de proteção tanto para as plantações quanto para os agricultores. O ano passado foi bastante desafiador para a agropecuária, com seca em certas áreas, excesso de chuva em outras, geada, tudo de forma muito intensa. E deixou a lição de que cada vez mais, o desenvolvimento do agro como negócio passará pelo trabalho integrado de equipes técnicas de diversas áreas: meteorologia, pesquisa e desenvolvimento, economia, gestão, mercado, seguro rural, agronomia, entre tantas outras. E, claro, tal movimento depende de uma sintonia fina entre os setores público e privado.