O PIB agropecuário deve crescer menos do que se esperava em 2022. É o que mostra a nova estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre o valor adicional (VA), apresentada nesta terça-feira (22). De acordo com o levantamento, a expectativa de avançar 2,8% caiu para apenas 1,0%. Se por um lado essa revisão nas estatísticas frustra o setor, por outro reforça o conceito de como a intensa conexão entre as cadeias produtivas agrícola e pecuária pode amenizar a suscetibilidade a desafios como mudanças climáticas e o “calor” da economia aqui e no mundo.

No caso da agricultura, boa parte dessa quebra de expectativas deve-se à redução de 8,8% na produção de soja, conforme o Levantamento Sistemático de Produção Agrícola (LSPA) do IBGE. A estiagem que marcou o último trimestre de 2021 persistiu no início deste ano, derrubando índices de produtividade na região Sul e nos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Para se ter ideia, ainda de acordo com dados do Ipea, a eficiência das lavouras de soja caiu 35,8% no Rio Grande do Sul e 40,7% no Paraná.

Para o bem da economia agrícola, a condição é diferente em outras culturas de grande relevância, conforme o IBGE. A produção de milho deve crescer 23,9%; a da cana-de-açúcar, 20,6%; e a do café, 13,4%. Esta última não surpreenderia por se tratar da bienalidade positiva dos cafezais, quando a produção é naturalmente maior, mas frente às geadas do meio de 2021, a performance é um destaque. E ainda pode haver um estímulo ao cultivo do trigo, pois com Rússia e Ucrânia em guerra, os dois maiores fornecedores globais do cereal, a oferta mundial tende a ser menor.

Essa situação de gangorra, desce aqui, sobe ali, também é vista no setor de proteína animal. A cadeia produtiva de carne bovina sofreu com o embargo das exportações para a China no trimestre final de 2021 e com a redução do consumo no mercado interno o ano todo, por causa da alta nos preços dos cortes – que é inversamente proporcional ao poder de compra da população. O volume de animais abatidos em 2021 foi 7,8% menor do que em 2020, segundo o estudo Radar Agro, desenvolvido pela Diretoria de Agronegócio do Itaú BBA.

Nessa mesma comparação de períodos, o abate de suínos avançou 7,3%. Pelo segundo ano consecutivo as exportações da suinocultura passaram de 1 milhão de toneladas e o consumo no mercado interno aumentou 8,7%. Cada vez mais a carne suína é vista pelos brasileiros como uma boa opção gastronômica em diversas situações, inclusive aumentando a variedade nas grelhas dos churrascos.

Não há como analisar o progresso do agronegócio sem passar pelos macro cenários, sem olhar para a condição econômica do País e do mundo, as demandas e os hábitos de consumo da população, as novas tendências mercadológicas, os conflitos (inclusive armados) internacionais, entre outros pontos. Da mesma forma, as avaliações setoriais têm de considerar esse ambiente global, não podem acontecer apenas de forma isolada, por mais particularidades que cada segmento possa ter.