Muita gente se arrepiou com a possibilidade de uma nova paralisação dos caminhoneiros este ano. Afinal, é bem difícil esquecer como foram aqueles dez dias em maio de 2018 quando a turma da ‘carga pesada’ desligou os motores. Vira e mexe o pessoal das cadeias produtivas do agronegócio retoma o debate sobre a dependência do transporte rodoviário, que carrega cerca de 65% de todas as cargas que giram pelo País. Em vez de uma greve dos profissionais da boleia, 2021 trouxe, ainda que no finalzinho, duas boas novas na área de logística e infraestrutura, pauta antiga do agro e de várias outras atividades econômicas.

Uma delas é a aprovação pelo Congresso Nacional, primeiro o Senado e depois a Câmara, do Projeto de Lei 4.199/2020, que institui o Programa de Estímulo ao Transporte por Cabotagem, também chamado de BR do Mar. A grosso modo, a iniciativa pretende estimular o transporte de cargas entre os portos, aquecendo a concorrência no setor e esfriando os custos, além de estimular a atualização da frota marítima e a indústria naval. São quase 8 mil quilômetros de costa e importantes pontos de parada para as embarcações, mas apenas 11% do transporte de cargas no Brasil passa por esse modal.

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O PL ainda aguarda a sanção presidencial, mas o Ministério da Infraestrutura já prevê que em três anos a capacidade da frota marítima dedicada à cabotagem possa aumentar 40%. E que a quantidade de contêineres transportados, que em 2019 foi de 1,2 milhão de TEUs (sigla para unidade equivalente a 20 pés), chegue a 2 milhões já no ano que vem. Desde que não falte contêiner, claro, pois esse foi um limitador para as exportações deste ano de itens agropecuários como carnes bovina e de aves, café, algodão e tabaco. Sabe como é, se a demanda por qualquer coisa cresce mas a disponibilidade é inversamente proporcional, o mercado não perdoa, o custo vai aumentar.

A segunda boa nova foi a aprovação do Marco Legal das Ferrovias, criado pela Medida Provisória 1.065/2021, que viabiliza a ampliação da malha ferroviária do País com capital privado e outorga por meio de autorização. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) já bateu o carimbo de aprovado em cinco projetos que certamente poderão favorecer o transporte do agro, pois atravessam importantes polos produtivos. Essa capilaridade de trilhos tende a se multiplicar ainda mais. Já estão na mesa do Ministério da Infraestrutura 24 propostas de novas ferrovias que podem passar de R$ 100 bilhões em investimentos e acrescentar quase 7,6 mil quilômetros de ferrovias.

As notícias serão ainda mais interessantes quando se confirmar a conexão entre esses e os demais modais, otimizando os transportes de maneira geral, o que certamente vai gerar mais equilíbrio e segurança, em todos os sentidos.